INIMIGO DO ESTADO: EU? IMAGINA!
"Não há satisfação em enforcar um homem que não faz objeção a isso".
George Bernard Shaw
primeiro
∞Hoje fui alertado mais uma vez que estou sendo monitorado pelos “Omens” que tomam conta do provedor do estado de Rondônia. Que as “porcas para parafusos”, cujo ofício é vigiar o funcionamento da internet dentro da máquina estatal e a sua utilização pelos seus funcionários, estão de olho em mim. Ora, isso não é uma novidade e não acontece só comigo. Basta um Zé Mané qualquer, seja ele professor ou não, tentar pesquisar em algum computador da escola através do Google um tema considerado “suspeito” o acesso lhes será negado. Já aconteceu de imagens da Disney, que eu precisava para ilustrar algum texto, ter tido o acesso negado pelo o referido provedor! Já houve ocasião de certos textos considerados ofensivos ao governante, existentes em certos sites locais também sofrerem a censura do Estado. “Sites” que se fingem ser de “oposição” sem ser de fato.
segundo
∞A informatização da máquina estatal de Rondônia é recente e ainda vem acontecendo. Faz parte do processo de “modernização” do Estado. Não obstante, o uso dela para o exercício da censura obstinada se arrefeceu nesses oito últimos anos. Extrapolou suas funções técnicas, passando a ser mais um instrumento político fabuloso. Pessoas absolutamente amorais de dentro e de fora do Estado, [os CDS] simpatizantes ou não de quem estar a serviço do poder cuidava de forma exagerada de proteger a imagem dos chefinhos e, principalmente, do CHEFÃO. O aparato tecnológico, neste caso, não foge a regra comum para qual foi desenvolvido, mas chama a atenção pela forma, exageradamente, ridícula e medíocre como ele tem sido usado pelos donos do poder local até então. A censura realizada pelo “provedor” do Estado de Rondônia é ridícula e hipócrita porque se preocupa com besteiras, bobagens, dizendo-se defensor da moralidade pública e das criancinhas contra a pedofilia. Se algum aluno ou professor quiser mesmo acessar um site pornô, acessa de sua casa diretamente ou numa Lan-house da esquina mais próxima. Não precisa fazer isso na escola. Como se também, o acesso a conteúdo tido como “proibido” dentro da escola colocasse em risco a segurança do Estado. [Ridículo!] Mesmo podendo haver tentativas de acesso a conteúdos “não-pedagógicos”, isso não acontece de maneira tão alarmante a ponto de haver tamanha censura.
terceiro
∞ A censura que acontece dentro das escolas públicas é a mesma que ocorre nas empresas da iniciativa privada e tem o mesmo objetivo: controlar o tempo de trabalho de seus operários e evitar que ele seja desperdiçado com algo que não tenha nada haver com o que é produzido no respectivo espaço. A informática deve está sempre a serviço da “produção”. Mas, não devemos igualar as duas instituições. Escola pública e universidades não devem ser tratadas como uma empresa privada, uma indústria de armas ou de cosméticos. O que nelas tenta-se produzir é o conhecimento que não deve ser privatizado, mas socializado. Mesmo quando ele é uma reflexão crítica ou uma pesquisa que exponha as vísceras sujas do próprio Estado. Não há como produzir conhecimentos “neutros”, higienizados de sua função política, social e educacional. É diferente das indústrias supracitadas, onde se acredita haver a necessidade do controle, da privacidade devido ao ambiente de livre-concorrência em que ela está inserida e etc. Escolas Públicas e Universidades Públicas existem para produzir conhecimentos que ajudem a manter a ordem estabelecida, melhorando-a ou, pelo contrário, servindo de vírus ou ácido dentro dela.
quarto
∞Mas, o funcionamento do Estado em Rondônia do jeito como vem acontecendo, no que diz respeito ao seu processo de informatização interna, opera contra os cidadãos que precisa dos seus serviços. É curioso quanto mais moderno o aparelho estatal fica, pior fica a prestação dos seus serviços básicos. Basta observar, em se tratando da Escola Pública, a existência ainda de filas para a matrícula e da demora em realizá-la apesar da informatização das secretarias das escolas. Basta lembrar também a forma primitiva e “sacana” como a SEDUC lota seus servidores mesmo tendo a sua disposição, excelentes computadores. Por fim, basta prestar a atenção para a quantidade de plágios que são produzidos pelos alunos através do computador da escola quando os professores solicitam um trabalho de pesquisa.
quinto
∞Quero concluir afirmando que o computador na escola Pública pode ser usado de diversas maneiras. Mas quanto ao uso da internet, a censura que existe é ridícula! Repito: RIDÍCULA! Trabalha contra o conhecimento, tentando regulá-lo. Trabalha contra o professor que busca um tempinho para exercitar sua criatividade, apurar seu senso crítico produzindo textos, melhorando sua escrita, sua forma de comunicação com o mundo, não só com seus alunos, sendo também um pesquisador e como tal, diz [*]Bourdieu: “ objetiva apreender estruturas e mecanismos que, ainda que por razões diferentes, escapam tanto ao olhar nativo quanto ao olhar estrangeiro [...]”. Trabalha contra o aluno quando exagera em seus limites de proibições, tolhendo sua liberdade de pensamento e de criação numa fase onde ele mais precisa ser estimulado. Ao ouvir de um colega de profissão que: o que escrevo está sendo monitorado e que, logo, logo, serei punido de alguma forma sendo, no mínimo, deportado para um Gulag, digo, lotado para trabalhar numa escola na cidade longínqua de Cabixi, senti-me como se estivesse na China “comunista“; não num país que se afirma democrático e defensor da tal liberdade de expressão! Como é que posso ser tratado como inimigo do Estado fazendo algo prescrito dentro do mesmo?
[*] Bourdieu, Pierre.Em “Razões Práticas: Sobre a Teoria da Ação
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