Antônio Paulo Resende: “As histórias dançam ritmos diferentes”
Texto do Prof.Dr.Antônio Paulo Resende
[Um orientador que gostaria de ter na UFPE.]
Recife-Pernambuco, 09/04/2012
Juntar os
acontecimentos e construir um livro: será essa a missão do historiador? Os
acervos estão mais organizados, existe uma maior abertura para pensar os temas
e alguns admitem que a imaginação seja indispensável para se mergulhar nas
águas do passado. Muitas mudanças surgem, além da presença marcante da
tecnologia na pesquisa cotidiana. Problemas de preservação das fontes conseguem
soluções e discussões sobre a memória ganham lugares consolidados na
universidade. Quem viveu no século passado ou mesmo se vestiu do positivismo
para realizar seu ofício sente que o caminhar é outro. Os debates se ampliam,
as verdades se multiplicam e a sociedade quer respostas para dúvidas sobre o
conhecido. Nada de sossego, nem conformismo metodológicos, o saber pede
agilidade, mas também paciência para montar suas peças.
A história
tem uma história. É importante não desprezá-la. Nem esquecer e Vico, Marx,
Benjamin, Duby, Burke, Pesavento e tantos outros. As transformações advertem
que história e vida se comunicam. A eternidade das concepções é uma falácia. As
ciências tremem, não possuem alicerces indestrutíveis. Não podemos fazer delas
as religiões da contemporaneidade. O cientista não é um sacerdote cercado de
dogmas, dominado pelas análises de Descartes, longe da crítica, sonhando com o
definitivo. A história seria uma ciência? Quais os limites do trabalho do
historiador numa sociedade pragmática e individualista?
Não se pode
negar que é fundamental organizar as pesquisas, questionar a qualidades dos
escritos e dos paradigmas. Portanto, há critérios que são escolhidos e
provocam desencontros. Desejar uniformidades é afastar a complexidade tão
visível nas relações humanas. Na época dos românticos, os comportamentos tinham
outras justificativas. O que dizer do mundo que circula nas trilhas da
informática e das redes sociais? Como desenhar as narrativas? O que merece ser
estudado para que a sociedade não sucumba ao desfazer-se das solidariedades?
O tempo
histórico dialoga com a simultaneidade, não foge dos entrelaçamentos, não segue
linhas retas. Como olhar a arte onde tudo tende a ser mercadoria? Como era a
literatura nos primórdios do modernismo? O cinema trouxe novas formas de
configurações estéticas? As guerras religiosas persistem e escondem interesses
capitalistas? As perguntas exigem idas e vindas. Desconhecendo o que passou
fica difícil estabelecer metodologias, compreender as diferenças, as versatilidades
das construções culturais. No renascimento, houve renovações,
sem menosprezo das tradições clássicas. Esse jogo do tempo desafia quem
busca conclusões e resultados acabados. Estamos sempre na procura, atravessando
abismos e encontrando labirintos. As certezas são efêmeras.
Não se
necessita de muito esforço para observar as diversas medidas das
histórias. No movimento das ruas, nas indagações dos intelectuais, nos ruídos
dos mercados, na vaidade dos famosos, nas badalações das crônicas sociais, a
travessia é imensa. Tudo faz parte das narrativas, tem o perfume o e a
esperteza do humano. Inventamos máquinas, fantasiamos mundos, reformamos leis,
concretizamos ambições. O ofício do historiador aproxima-se de cada minuto, não
se ausenta do mundo. Ele não é um demiurgo que cria tramas de acordo com sua
vontade. Em toda história há um pouco de ficção. Será?
Fonte: http://www.astuciadeulisses.com.br/
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