DIÁRIO DO EXÍLIO 10


1. O meu tema não tem relação alguma com a questão da cronologia do ano que s finda. Não pretendia dizer “feliz 2011”. Não, nada disso! O dia 19 de outubro de 2009 para mim marca o limite com que podemos lidar com a racionalidade com outra pessoa. Marca até onde se pode suportar a ignorância de alguém que, teoricamente, deveria demonstrar sapiência e competência no trato da máquina pública e, principalmente, dos agentes públicos que a fazem funcionar. Essa data registra também um fato que tem sido corriqueiro no cotidiano das Escolas Públicas, mas que não deveria ser. Não deveria existir: mas é tão comum! Não deveria acontecer: mas, infelizmente acontece. Essa é a data em que uma diretora de escola pública da Capital do Estado chega ao auge, ao limite máximo do assédio moral que é capaz, direta e indiretamente, de impingir, impor sobre um colega professor de História desde 2008 quando o mesmo foi lotado para trabalhar nessa dita escola. O que aqui será brevemente narrado será apenas um pedaço duma reflexão maior que ocorrerá em tempo oportuno, mas que pode nos ajudar a refletir sobre a temática e, quiçá, ajudar a quem pode inibir tal coisa possa assim agir.

2. Em textos anteriores relatei algumas das agruras por mim vividas em 2008, logo quando cheguei nessa escola. Deparei-me com um espaço privatizado dentro do espaço público. Havia uma “panelinha” dentro dessa escola: um grupelho formado por professores e outros servidores que se prestavam a dar uma acrítica e cega sustentação política a então diretora e sua vice. Tudo em nome do “PPP” pré-estabelecido, ou seja, o “Projeto Político Pedagógico” que existia na escola. O “PPP” na boca dessas pessoas se apresentava a mim como a “bíblia” ou os Cânones “da escola” a qual eu tinha que me submeter sem duvidar. Era o “catecismo” do grupelho liderado por essa diretora que fui forçado a engolir logo de imediato se quisesse ali trabalhar. O pior era ter que também acreditar e repetir na marra que o mesmo era democraticamente construído. Que as prescrições ali contidas não poderiam ser questionadas, mesmo quando se percebia contradições no discurso emitido pela senhora diretora.

3. Era o “cassolismo pedagógico” sendo posto em prática naquela escola. Uma forma absurda, perversa e matuta de autoritarismo sintetizado pedagogicamente, travestido lindamente de “democracia”. Mesmo quando as falas de integrantes dessa panelinha rabugenta transpiravam submissão à gestora-mor e absurdos eram ditos a revelia dos PCNEF e PCNEM de 1997: a “poderosa chefona” se encarregava de reafirmar a coerência que “havia” entre o que deveria ser feito na escola de acordo com o seu PPP e os PCN citados. Coerência nunca comprovada na prática. O curioso era o fato da dita cuja jamais permitir a reprodução do PPP por parte dos professores vistos como sendo da oposição a sua gestão ou que ela, simplesmente ela não ia com a cara do sujeito. O PPP ao invés de ser público, de ser disponibilizado a todos que quisessem estudá-lo e suscetível a alterações propostas e discutidas coletivamente: era o oposto disso tudo sob a desculpa fulêra da falta de recursos da escola para torná-la acessível.

4. O fato era que em nome desse tal “PPP”, absurdos foram cometidos nessa escola. Eu mesmo fui e ainda sou acusado de tê-lo “profanado”. Por exemplo: um projeto chamado de “meio ambiente limpo” protagonizado pelos partidários dessa diretora foi imposto a todos do corpo docente da Escola sem ter tido o devido espaço para o amplo debate necessário para execução do mesmo. A diretora se encarregou de forjar reuniões apressadas onde ela já sabia, de antemão, do placar da votação feita “nas coxas” a despeitos dos questionamentos feitos por alguns colegas. Em síntese: o tal projeto meio ambiente limpo foi uma forma de a escola obter material de limpeza dos alunos do EJA ou dinheiro em troca de pontos na média bimestral dos alunos e uma forma da senhora diretora limpar as salas de aulas, banheiros e demais dependências da instituição explorando a mão de obra infantil a revelia do ECA, mas em nome do “democrático” “PPP”. O que muitos colegas não sabiam, naquela ocasião, que esse projeto sequer tinha sido aprovado pelo setor técnico da Representação de Ensino da Capital. A direção da escola sabia disso e, nunca se preocupou em informar. Porque interesses escusos poderiam ser feridos. Por isso, ela e seu grupelho fizeram o possível para ele acontecer, mesmo na marra.

5. Coisas semelhantes pode-se dizer das outras atividades previstas no calendário escolar. Diga-se de passagem, um calendário abarrotado de ações que contribuíam para tirar o professor da sala de aula, de fazê-lo menos professor e mais promoters de eventos festivos. Eram tantas as ações que impediam os professores sérios que lá haviam de realizarem suas funções adequadamente sem interrupções. Esses, jamais conseguiam realizar bem o plano de curso que faziam. Tinham que parar a abordagem d’um tema no meio para atender essas ações que, na maioria dos casos, não tinha relação alguma com a formação do profissional e nem com o que ele se propôs a fazer via contrato d trabalho com o Estado. Éramos coagidos a nos desviarmos de nossas funções específicas em nome do “sagrado “PPP” dessa escola. Sábados eram usados para muitas dessas ações e éramos coagidos também a vir, participar e forçar o sorriso. E aí dos que achava ruim como eu: a diretora e suas comadres detonavam o indivíduo da forma que podiam. As comadres, burguesinhas” porque tinham viajem marcada no meio ou no fim do mês de dezembro e queriam a todo custo acabar de cumprir cedo a sua carga horária para enfim irem para o Acre, o nordeste o para o Caribe.

6. Resisti o quanto pude a toda essa incoerência pedagógica que lá pude testemunhar, mesmo sendo um dos poucos que assumia a crítica que fazia e a posição que sempre tomava. Não fui a inúmeros sábados; debochei nas reuniões de fachada que a direção realizava as pressas, geralmente nos finais das aulas ou nos malditos sábados e muitas vezes nem sequer delas participava pela nulidade do que lá ocorria. Reuniõezinhas feitas sem anúncio prévios da sua pauta, sem nenhuma regra parlamentar a ser seguida [talvez essa fosse à regra!], onde muitas das vezes mais parecia uma Babel ou era o momento da direção fazer cobranças do eles mesmos não faziam, nem dava o exemplo. A patota queria até que professores ensaiassem quadrilha de São João! Servisse de psicólogo amador dos alunos com a idiota função inútil de “conselheiro de classe”; Office boy ou despachantes da direção. E quanto à chamada “feira de cultura”: que tava mais para “cu- que- ltulra”! Feira de reproduções tiradas da internet. Um show de aberrações plagiadas; de falta de criatividade, um horror onde houve até o tal do vulcãozinho a base de som-risal e a maquete da hidroelétrica de Samuel era usada pela milésima vez em feiras de “conhecimento estudantis”.

7. Minha postura diante dessas palhaçadas que eu me cansei de ver, dos absurdos cometidos contra até a pedagogia oficial do MEC contidas no PCNs me tornaram Persona non grata para a direção daquele estabelecimento de ensino. Fui ao longo dos anos de 2008 e 2009 tendo minha energia sido drenada aos poucos por essas coisas; pelos assédios morais da diretora: que adorava chamar minha atenção para a minha indiferença em relação às besteiras que ela e o grupo dela julgavam relevante pedagogicamente. Que marcava de perto e com o propósito de me ferrar a qualquer momento; que tolerava o atraso das amigas, menos os meus. Que chegou até gritar comigo na sala dela. Que adorou quando um funcionário surtou e quase me agrediu fisicamente por um mal entendido. Que fazia o possível para impedir que eu fosse eu mesmo enquanto professor habilitado e contratado para ensinar História porque a História que ela dizia que eu ensinava não era igual a que ela dizia já ter ensinado a mais de trinta anos atrás. Fui coagido violentamente a avaliar os alunos de forma contraria aos PCNs. Ela se valeu de inúmeros instrumentais, da fofoca as ameaças veladas, do controle do ponto a chamada de atenção em público, colocou a subserviente supervisora crente batista ortodoxa para vistoriar as questões das provas que fui obrigado a passar para os alunos contra tudo o que acredito em relação à avaliação escolar, enfim: fez o possível para pressionar-me, cercar-me, cercear minha liberdade de pensamento e de expressão e a coagir-me a fazer o que ela queria. Esse atrito constante resultou num desgastando emocional e psicológico profundo, sentindo até os dias de hoje.

8. Então, após atravessar o ano de 2008 até o fatídico dia 19 de outubro de 2009 o relacionamento entre o professor de História e a sua então diretora se deteriorou definitivamente. Antes da realização da tal feira de “cultura” de 2009 tive de me afastar por sete dias a pedido do médico. Isso porque resolvi seguir os conselhos de uma colega que gostava de mim. Ela me pediu para procurar o médico porque via em mim uma pessoa a ponto de estourar, dos nervos arrebentarem de vez pela grande quantidade de estresse que ela percebia exalar de meus poros. Eu já estava com os nervos abalados e não me dava conta disso. Mas a colega viu e me aconselhou bem a procurar ajuda médica. Tive que ficar ausente da escola perto da tal feira acontecer. Mesmo assim, contra minhas convicções, foi me imposto tomar conta de uma turma e orientar os grupos dela a realizarem bem o trabalho que iriam apresentar no dia programado do evento. Tentei, mais de uma vez, fazer o que me incumbiram de fazer. Mas os integrantes dos grupos não se dispuseram a me ouvir sob a alegação de que tiraria tudo o que precisava do Google. Então, só se preocupavam com a cor e outros detalhes da camiseta que o grupo iria usar no dia da feira. Comuniquei este fato a “honestíssima” supervisora e de nada adiantou. Como não me ouviam, continuei a ministrar minhas aulas conforme meu planejamento. Não insisti mais em orientar quem não queria ouvir minhas orientações.

9. No dia 19 de outubro, entrei nessa turma para dar minha aula. Um dos grupos que preparava um trabalho para adita feira me pediu para sair, para poderem resolver assuntos ligados ao seu trabalho. Não empatei, deixe-os ir à vontade! Só que eles foram pedir algum material lá na supervisão, que fica ao lado da sala dos professores dessa escola, quando foram abordadas pela diretora da escola a respeito do que estavam fazendo lá. — Enquanto isso..., eu estava dando a minha aula. Apareceu de repente uma estranha dizendo que a diretora estava-me mandando parar minha aula e ir ao encontro dela imediatamente. Recusei, respondendo que iria só após o término da aula. Não demorou muito, desceu a inspetora trazendo novamente a mesma ordem. Só que com mais violenta ênfase de eu parar e ir atendê-la lá em cima, na sala dos professores. Contrariado, cedi e obedeci. Não fazia idéia do que estava para acontecer. Então, pedi licença e desculpas aos alunos e fui ao encontro do diabo.

10. Mal entrei e a senhora diretora, num tom estupidamente agressivo, diante do grupo de alunos que tinha me pedido para sair e resolver questões ligadas ao trabalho deles se dirigiu mim. Acusou-me de recusar ajuda, orientação aqueles alunos. Afirmou que eles tinham ido lá e se queixar de mim, isto segundo ela. Olhei na face de cada um deles e perguntei diretamente: é verdade que eu fiz isso? É verdade que vocês me pediram orientação e eu recusei? Todos negaram as afirmações da diretora. Nenhum tinha coragem de repetir a mentira que ela, como boa evangélica que diz ser, estava dizendo para mim. Tentei em vão, enquanto ainda estava calmo, esclarecer à senhora diretora dos fatos. Ela ficou repetindo como um mantra dos infernos tudo o que ela julgava de errado que eu fazia. Repetia sem parar que eu não fazia meu trabalho, que eu era crítico, que fazia ou dia isso e aquilo sem parar e na frente dos alunos e de alguns colegas ali presente. O clima foi esquentando cada vez mais... Até que quando ela disse que iria me denunciar para a Representação de Ensino: eu não agüentei mais e passei a me dirigir a ela no mesmo tom. Ela falava alto comigo e eu com ela. Ela apontava o seu dedo sujo em riste para mim e eu apontava os meus limpos para ela também. Um encarava o outro sem medo. A mulher desembestou de vez. Deu chilique nela e começou a chorar enquanto eu segurava a tremedeira que se apossava do meu corpo. Enquanto ela vomitava o ódio dela em cima de mim, eu somatizava toda a raiva que me estava fazendo sentir naquele momento. Ela me xingou de covarde; de não ser corajoso o suficiente para dizer o que pensava as autoridades do governo[Cassol]; me chamou de pelego! E etc. Até que um colega me pediu para ir embora antes que a situação piorasse e eu perdesse o controle de vez. Haja nervos! Fui embora então. Explodi quando cheguei a minha casa. Foi um horror! Nunca havia sido submetido a tamanho estresse, a tamanho assédio moral de uma colega que se julgava acima dos demais por está diretora da escola. Por não suportar crítica alguma, não ter competência para participar d nenhum debate sério e de gerir uma escola. De passar oitos anos e permitir que um apagão elétrico ocorresse, deixando alunos sem aula durante uma semana e etc..

11. Eis, portanto a razão do tema ser infeliz 2009. Para que fato igual não ocorra com mais ninguém, nem com a dita cuja. Tomara que possamos evitar que esta história se repita no ano que vai começar. Tudo de bom para meus colegas professores e não professores e para todos que são solidário comigo. Tudo de bom até para meus inimigos! Feliz 2010!

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