SERÁ QUE VALE TUDO PARA CHAMAR A ATENÇÃO DOS ALUNOS EM SALA DE AULA?
A notícia eu soube ontem a noite dia 27/02/2011 no Programa da Rede Record: Domingo "Espetacular". Pois, foi justamente, a espetacularização sacana que programas como esse do dono da Record Edir Macedo e de outras mídias que me incomodou muito, contribuindo não para que o que acontece dentro de uma sala de aula seja debatido, mas, apenas pelo sensacionalismo barato que o povinho brasileiro adora. Foi o trato da questão, a abordagem que me indignou, pois como uma vez sendo professor e já tendo passado por experiência parecida, onde minha metodologia foi considerada, heterodoxamente, escandalosa, eu me solidarizei com o colega da cidade de Santos /SP. Será que o único modelo ideal de "criatividade" na abordagens de temas interdiciplinares ou não, são dos panacas das escolas privadas, muito bem pagos para fazerem o papel ridículo de palhaços, cantor sertanejos, pregadores do evangelho ou contadores de piadas enquanto "vendem" sua aula? Fica a questão no ar? Mas para os leitores desse Blog se inteirarem, eis algumas versões do vivido reproduzidos de forma resumida e muito parcial pelo Domingo "Espetacular":
Baixada Santista
Contas do crime viram lição de Matemática em escola de Santos
Sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011 - 06h32
Eduardo Velozo Fuccia
Seis histórias versando sobre tráfico e uso de drogas, receptação de carros roubados, homicídio qualificado mediante pagamento, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e até exploração do lenocínio (prostituição) foram os temas escolhidos por um professor em sua aula de Matemática.
Escritos na lousa como problemas, os casos exigiam conhecimentos aritméticos para serem resolvidos. Mas, implícita e explicitamente, sugeriam indiretamente que "o crime compensa", relatou ontem, indignada, a mãe de uma aluna de 14 anos.
"Em todos os problemas, os criminosos só se dão bem, transmitindo a idéia de que o crime compensa. Além disso, as questões ensinam como aumentar o lucro com a venda de drogas e ganhar dinheiro de forma supostamente fácil com a prática de outros crimes", declarou a preocupada mãe.
A pretexto de analisar o nível de aprendizado dos alunos no primeiro dia de aula deste ano letivo, o professor de Matemática elaborou a polêmica avaliação, que resultou ontem à tarde em seu afastamento. Pela manhã, o docente trabalhou normalmente.
O episódio, relatado à Polícia Civil e que está sendo chamado de Aula do Crime, aconteceu na Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, em Santos. Identificado apenas pelo prenome de Lívio, o professor será intimado para, inicialmente, prestar esclarecimentos.
Independentemente das providências que serão tomadas na esfera criminal, no âmbito administrativo a Secretaria de Estado da Educação afastou o docente e "determinou, nos termos da lei, a instauração de procedimento averiguatório preliminar", conforme nota oficial.
Essa medida objetiva reunir dados para eventual e futuro procedimento administrativo disciplinar. Ainda conforme o comunicado da Secretaria da Educação, enquanto o procedimento averiguatório não for concluído, a Administração não dará mais informações sobre ocaso.
A Secretaria da Educação justificou o silêncio por atuar como instância de decisão e não poder correr o risco de realizar prejulgamento. O titular da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) de Santos, Francisco Garrido Fernandes, também apura o suposto caso de apologia ao crime.
Aluna relata que perguntas eram para avaliar a classe
Os problemas matemáticos com enredos do submundo do crime foram passados para os alunos do 1º ano C, do Ensino Médio, período matutino, na última segunda-feira.
Por ser a primeira aula do ano para essa classe, o professor Lívio afirmou que precisaria fazer uma "avaliação diagnóstica" e começou a escrever na lousa seis questões.
O seu objetivo era que os alunos resolvessem os problemas durante a aula e, depois, destacassem do caderno a folha com as questões e as respectivas respostas.
Com a aplicação do teste, o professor pretendia analisar o conhecimento da turma sobre a matéria. Mas nem todos os alunos responderam. Um deles é Beatriz (nome fictício), de 14 anos, que mostrou a lição para os pais.
"As questões influem de modo negativo, principalmente numa região carente, com muitos pontos de tráfico. Elas incentivam o crime, porque só falam em lucros dos bandidos", protesta a mãe da adolescente.
O pai da garota disse que nem todos os responsáveis pelos alunos tomaram conhecimento do teor da aula de Matemática, porque os seus filhos entregaram ao professor a folha com as perguntas respondidas.
Beatriz, por sua vez, afirmou que achou "estranho" os enunciados dos problemas matemáticos, não conseguindo compreendê-los direito. O pai da garota chegou a comunicar o episódio à direção do colégio. "Sem mostrar o caderno da minha filha, informei o conteúdo da aula e a diretora admitiu que isso não poderia acontecer. Então, o professor foi chamado à sala dela e confirmou tudo", declarou o pai de Beatriz.
Na manhã de ontem, o professor Lívio deu nova aula aos alunos do 1º ano C. "Ele pediu desculpas para a classe e falou que não tocaria mais no assunto, porque poderia ser processado", revelou a adolescente.
No início da tarde, a diretora da João Octávio dos Santos, Maria Madalena de Almeida Serralva, conversou com exclusividade com A Tribuna, limitando-se a dizer que a Secretaria da Educação "já tomou providências".
O docente acusado não se encontrava na escola e o seu nome completo não foi divulgado por Maria Madalena e nem pela Secretariada Educação. Lívio é professor efetivo da EE João Octávio dos Santos há cinco anos.
Fonte:http://www.atribuna.com.br/noticias.asp
Alunos fazem protesto por retorno de professor afastado por apologia ao crime em Santos, SP
A Tribuna Online
Matéria publicada em 22/02/2011.
SÃO PAULO - Os alunos da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, em Santos, litoral de São Paulo, realizam nesta quarta-feira um manifesto em apoio ao professor Lívio, afastado após uma suposta apologia ao crime em uma prova de matemática. Os estudantes vão pedir o retorno do docente à unidade, pois o consideram um profissional competente e, principalmente, porque não houve aula de Matemática desde o afastamento.
O manifesto vai acontecer por volta de meio-dia, quando os alunos da manhã saírem da escola. Haverá cartazes, feitos pelos próprios estudantes, e o recolhimento de assinaturas para um abaixo-assinado pedindo a reintegração de Lívio. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, as aulas de Matemática, perdidas pelos alunos após o afastamento do professor Lívio, serão repostas a partir desta quinta-feira. Um professor eventual deverá assumir as aulas do docente.
Numa prova aplicada a alunos, havia questões sobre a prática de crimes, como prostituição, tráfico de drogas e roubo de veículos. Uma aluna do 1º ano C, do Ensino Médio, não entregou o teste ao professor e, de posse do conteúdo, revelou o teor aos pais.
A prova foi levada ao conhecimento da direção da escola e, posteriormente, à Polícia Civil. A Secretaria de Estado da Educação informou que afastou o docente para investigar o caso.
A polêmica avaliação continha problemas matemáticos, com questões que abordavam o tráfico de drogas, receptação de carros roubados, homicídio qualificado mediante pagamento e prostituição. Os resultados das equações sempre apontavam vantagens para os criminosos. Foram seis questões escritas na lousa, para que os estudantes copiassem e respondessem em uma folha à parte.
Em um dos problemas, o docente perguntou quantos carros teriam de ser roubados por um indivíduo para ele receber R$ 2 mil, já que para cada veículo o pagamento era de R$ 500,00. Em outro teste, ele deu detalhes de uma mistura de cocaína com bicarbonato para os traficantes aumentarem sua margem de lucro, e questionou qual o percentual da droga pura na receita. Em outra questão, era dito o seguinte:
- Pipoco está na prisão por assassinato, pelo qual recebeu R$ 5 mil. A mulher dele gasta R$ 75 por mês.Quanto dinheiro vai restar para Pipoco quando ele sair da prisão daqui a quatro anos?
No momento da prova, o professor, identificado como Lívio, teria dito aos estudantes que o teste era uma "avaliação diagnóstica", para analisar o conhecimento da turma sobre a matéria.
- A escola está ali para recuperar e não para 'jogar' para o tráfico, ou receptação e prostituição - disse a mãe da aluna que fez a denúncia e prefere não se identificar.
Outra mãe que viu a prova, Ana Silva, disse que ficou horrorizada.
- Não meu tempo não tinha disso não.
O jornal A Tribuna, de Santos, conseguiu falar pelo telefone com o professor. Aparentemente abalado, ele não quis entrar em detalhes sobre o caso e a forma como obteve ou elaborou as perguntas. Segundo ele, as mesmas questões são encontradas em sites de humor, alguns lançados em 2009.
Alegando ter sua "carreira destruída pela exposição exagerada" do fato, Lívio disse que foi "mal interpretado", e que explicou aos pais da aluna o motivo da aplicação do teste, inclusive pedindo desculpas. Mas ele não justificou a razão de optar por tais questões. Lívio afirmou que "a ficha ainda não caiu" e, portanto, não sabe o que poderá acontecer com sua carreira.
- Acabou - disse o professor, encerrando a conversa.
Investigadores da Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes (Dise) tentaram localizar o professor, mas não o encontraram em sua residência.
O delegado da Dise, Francisco Garrido Fernandes, instaurou inquérito para apurar a suposta apologia ao crime. Ele disse que, durante a investigação, serão ouvidos o docente, os pais, a aluna e a diretora da escola, Maria Madalena de Almeida Serralva, que prestará depoimento nesta segunda-feira.
- Os pais foram ouvidos, a Delegacia de Ensino notificada. Também foram notificados a diretora e esse professor - disse o delegado.
Polêmica em escola
Após caso ser divulgado, professor de matemática diz que carreira está destruída
Sábado, 19 de fevereiro de 2011 - 08h07
Diogo Caixote
“Fui mal-interpretado”. Essa foi a única alegação do professor Lívio, sobre a suposta apologia ao crime, em uma prova de Matemática aplicada a alunos da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, em Santos. O exame continha questões sobre a prática de delitos, com resultados vantajosos para o infrator.
Na edição de sexta-feira, A Tribuna expôs o caso, já chamado de Aula do Crime. Nele, uma aluna do 1º ano C, do Ensino Médio, não entregou o teste ao professor e, de posse do conteúdo, revelou o teor aos pais.
A prova foi levada ao conhecimento da direção da escola e, posteriormente, à Polícia Civil. A Secretaria de Estado da Educação afastou o docente para investigar o caso.
A polêmica avaliação continha problemas matemáticos, com questões que versavam sobre tráfico de drogas, receptação de carros roubados, homicídio qualificado mediante pagamento e prostituição. Os resultados das equações sempre apontavam para as vantagens dos delitos.
Foram seis questões escritas na lousa, para que os estudantes copiassem e respondessem em uma folha à parte. A conclusão deveria ser entregue ao professor. Alguns alunos preferiram segurar a prova.
Em um dos problemas, o docente perguntou quantos carros teriam de ser roubados por um indivíduo para receber R$ 2 mil, já que por cada um haveria a recompensa de R$ 500,00. Em outro, ele deu detalhes de uma mistura de cocaína com bicarbonato para os traficantes aumentarem sua margem de lucro, e questionou qual o percentual da droga pura na receita, por exemplo.
No momento da aplicação, Lívio teria dito aos estudantes que o teste era uma “avaliação diagnóstica”, para analisar o conhecimento da turma sobre a matéria. Ontem, após o caso ganhar repercussão nacional, Lívio evitou fazer comentários.
Contato telefônico
A Tribuna conseguiu um breve contato telefônico com o professor. Aparentemente abalado, ele não quis entrar em detalhes sobre o caso e a forma como obteve ou elaborou as perguntas. Os mesmos enunciados são encontrados em sites de humor, alguns lançados em 2009, algo do tipo vestibular para o crime.
Alegando ter sua “carreira destruída pela exposição exagerada” do fato, Lívio disse que foi “mal interpretado”, e que explicou aos pais da aluna o motivo da aplicação do teste, inclusive pedindo desculpas. Contudo, ele não justificou a razão de optar por tais questões.
Desligando abruptamente as ligações telefônicas, em um dos contatos Lívio afirmou que “a ficha ainda não caiu” e, portanto, não sabe o que poderá acontecer com a sequência da sua carreira. “Acabou”, sentenciou o professor, encerrando a conversa, para não mais atender o telefone.
No fim da tarde, investigadores da Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes (Dise) tentaram localizar o professor, mas não o encontraram em sua residência.
O delegado da Dise, Francisco Garrido Fernandes, instaurou inquérito para apurar a suposta apologia ao crime. Ele disse que, durante a investigação, serão ouvidos o docente, os pais, a aluna e a diretora da escola, Maria Madalena de Almeida Serralva, que prestará depoimento nesta segunda-feira à tarde.
A Reportagem tentou falar pessoalmente com o docente até as 19h30 de ontem, mas ele não foi encontrado em sua residência.
Vereador repudia espetacularização pela imprensa
Segunda-Feira 28 de Fevereiro de 2011
Parlamentar comenta caso do professor Lívio
“Não conheço o professor Lívio, mas gostaria de oferecer-lhe o benefício da dúvida. Pelo que li e assisti pela TV, e pela reação da comunidade a seu favor, ao que parece não houve de sua parte uma intenção criminosa.” Essa observação foi feita pelo vereador professor Reinaldo Martins (PT) na tribuna da Câmara na sessão de quinta-feira (24/02), ao criticar a exposição exagerada do caso por parte da imprensa.
O professor Lívio é acusado de apologia ao crime por aplicar exames contendo questões que abordavam tráfico de drogas, homicídio e prostituição em aulas do 1º ano do Ensino Médio na Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro São Bento, em Santos. O caso tornou-se público quando a mãe de uma aluna ao ver a lição da filha procurou a diretoria da escola e posteriormente a Polícia Civil. O educador foi afastado do cargo.
“Faço aqui uma crítica honesta ao modo como a imprensa tem tratado o caso, criando a expressão ‘aula do crime’. Assuntos dessa natureza, somente em último caso, deveriam parar na Polícia. Assim como aqui nesta Casa discutimos temas de interesse da sociedade, no caso da educação os assuntos de interesse pedagógico devem ser tratados no ambiente escolar, sob análise do conselho de escola e com a participação da comunidade”, advertiu Reinaldo.
Reinaldo, que também é professor e preside a Comissão de Educação da Câmara, ponderou que hoje só de manter-se professor da rede estadual, com o salário praticado atualmente pelo Governo de São Paulo, aceitando lecionar em áreas de difícil acesso e com problemas dos mais diversos, já é uma atitude que merece consideração.
Conforme o vereador, o ato de lecionar é uma tarefa cada vez mais difícil nos dias de hoje e o que se percebe é que o professor estava tentando ensinar, não o crime, mas os conceitos da Matemática, porém sob uma abordagem ‘questionável’, o que não quer dizer, argumentou Reinaldo, que está induzindo o aluno ao crime. Para ele, Lívio pode ter sido mal interpretado e a exposição exagerada do caso pode destruir a sua carreira e sua vida.
“Existem correntes pedagógicas das mais variadas, nenhuma com a razão completa, e uma delas é a do construtivismo, adotada oficialmente pelo Estado e pelo Município, que rege uma abordagem de ensino a partir da realidade do aluno. Neste caso, ao que tudo indica, o professor estaria abordando uma realidade que, no seu entender, é a vivida por esses alunos. Não conheço essa realidade, mas o que se lê nos jornais é que ela existe”, disse Reinaldo.
“Conhecendo o método de ensino, a meu ver o tema daria início a toda uma discussão que não se limitaria em ensinar as operações matemáticas, mas sim cumprir um dos objetivos da educação, que é o da formação cidadã. Se o estudante não sai da sua realidade para discutir e ampliar o seu horizonte, a sua capacidade de análise e argumentação, então escola não teria função”, finalizou o parlamentar.
Gabinete do vereador professor Reinaldo Martins (PT)
Rua XV de Novembro, 103/109 - Centro Histórico de Santos
(13) 3219-3888 / (13) 3211-4100 ramais 4115 e 4182
reinaldomartins@professorreinaldo.com.br - www.professorreinaldo.com.br
Fonte: http://www.camarasantos.sp.gov.br/noticia.asp?codigo=3158&COD_MENU=102
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