ESCOLA PÚBLICA VIRA PICADEIRO PARA O CIRCO DO ENSINO PRIVADO DE RONDÔNIA-3ºVERSÃO
1. Hoje, agorinha, já está chegando ao final a “palestra”-show misturado com palhaçadas dirigidas por um cara
fantasiado de Sílvio Santos, assessorado por um DJ que, enquanto fazia sua
performance, deixava rolar um fundo musical bem brega. Este “evento” promovido
por uma instituição privada que vende a mercadoria: "cursos profissionalizantes
e cursinhos preparatórios para os exames do ENEM" que atende pelo nome de Conectiva
Cursos foi permitido pela atual e dinâmica gestão da E.E.E.F.M Priscila
Rodrigues Chagas situada no bairro Cidade Alta na cidade de Rolim de Moura, fato que prestigia e confirma a força que o
mercado privado de educação tem dentro das Escolas Públicas nesse Estado e País.
Força de, ao menos, terem o privilégio de informar e fazer propaganda, gratuitamente,
sem nenhum retorno para a escola supracitada e para os seus alunos acerca dos produtos
"educacionais" que estão oferecendo. Como não sabem como fortalecer o
Ensino Médio da própria escola, permitiram que esse evento privado fosse
promovido no lugar das aulas de hoje. As aulas de hoje foram substituída por essa
dita "palestra" de interesse, exclusivamente, privado. É bem provável
que não se dêem conta que agindo assim, estão prevaricando, digo, agindo de má fé, mesmo pensando que
não ou que estão promovendo o interesse público quando de fato não estão.
Curioso: dias antes, um professor pediu para esses gestores uma revista
especializada que é enviada para as Escolas Públicas de todo o País para seu
uso particular e negaram sob alegação de que a revista É DA ESCOLA. Isto
é, É DE USO PÚBLICO e é para OS PROFESSORES DA ESCOLA! Atitude
correta e compreensível. Porém, desconfio
que haja alguma coisa de errado e contraditório nessa última postura quando se
compara com a primeira, a do professor que pediu para ficar com uma das
citadas revistas. Essas não podem ser usadas privativamente, mas o espaço e o tempo de
aula da ESCOLA PÚBLICA podem ser apropriados por uma empresa PRIVADA? Estranha
contradição, não é?
A "Conectiva" conectando os alunos da Escola Pública |
2. Educação não deveria ser mercadoria
privada. Escolas Privadas nem sequer deveriam existir. Pelo o contrário: a
educação deveria ser pública, gratuita e de qualidade para todos sem distinção.
Tanto para o rico como para o pobre, todos, se quisessem estudar deveria ter
apenas essa opção dentro do Brasil. Ir para uma escola pública. Se alguns quisessem
consumir essa mercadoria que chamam de “educação” que fossem consumir no
exterior, não aqui dentro. Uma educação-mercadoria, bem de troca, cheias de recursos agregados ou artifícios típicos
da sociedade do capital. Iscas para atraírem e fidelizarem seus clientes. O
termo usado, eufemisticamente neste caso, é: “valores” agregados. E quais são
eles afinal? São as aulas shows com palhaçadas, pantomimas, e professores
comediantes ou imitadores de cantores populares ou apresentadores de auditórios,
piadistas e etc. São as festinhas promovidas para desfiles das grifes da
escola. São as apostilas e fardamentos estilizados vendidos pela própria
escola. São os restaurantes ou cantinas pós modernas que são oferecidas para os
alunos; sala hiper refrigeradas de amplos espaços para se assistirem as “aulas”;
lousa conectada ao computador sensível ao toque para “prenderem a atenção” dos
alunos enquanto eles assistem as “aulas” e o serviço de solícitos garçons do
conhecimento: os professores
showmans; sempre a disposição dos clientes, perdão, alunos. Estes são “os
encantos” dessa educação-mercadoria, que custa caro e que é oferecida por essas
empresas privadas do ensino. Que o Ensino Público não pode imitar até porque
nele não se investe para poder com essas empresas concorrer em pé de igualdade.
“Valores” que, na verdade, são antivalores
do ponto de vista de uma Escola Pública séria e de qualidade.
Prof.Dirçeu Beltior, amigo da FAROL falando pela Conectiva |
3. Ora bolas então: Por que somos obrigados a
tolerar eventos similares a esses que acontecem hoje, agora, no Priscila e em
outras Escolas Públicas nesse Estado, nesse País? Primeiro porque no Brasil é
permitido que haja educação diferenciada: uma para os pobres e outras para os
ricos. Segundo, o Estado brasileiro investe muito pouco do que deveria
investir, não tem efetivo interesse em fortalecer o ensino público. Pelo
contrário, cria programas como o PROUNI e o FIEIS para satisfazerem pessoas da
chamada nova classe média. Um tipo de gente que deseja, mais do que tudo, se
sentirem próximos das elites e que para que isso se torne realidade encontram no
governo o apoio que precisam através desses mecanismos de promoção da
educação-mercadoria das instituições privadas. Jamais tais programas tiveram o
propósito de fortalecerem o Ensino Médio e as Universidades Públicas, enfim, o
Ensino Público. Quem apóia a continuação da existência de tais programas desenvolvidos
pelo Governo Federal está demonstrando que também compactua com os capitalistas
do ensino: atua contra o Ensino Público, é seu inimigo. Sendo assim, não é uma
contradição minha, sendo eu um Funcionário Público, direta ou indiretamente,
apoiar qualquer ação das empresas de ensino-mercadoria à custa do bem público?
Sendo eu um gestor de uma Escola Pública permitir que algumas dessas empresas
cresçam à custa da diminuição da Escola que eu deveria, de fato, promover? É
justo que eles cresçam e as Escolas Públicas diminuam? E com ajuda delas mesmas
só para nos escandalizarmos ainda mais?
4. Os ditos "cursinhos preparatórios", antigos
pré-vestibulares, agora chamados de pré-ENEM tais como Conectiva Cursos,
Colégio Objetivo, Classe A, Mestres e congêneres se associam com faculdades
privadas, muitas vezes uma é extensão da outra para seduzirem, especialmente,
os alunos das escolas públicas. Muitos deles, justamente filhos dessa nova
classe média, para serem seus consumidores-alunos. Neste caso uma mão lava a
outra. Mas, o que tais faculdades ganham, indiretamente, ao agirem assim
consociadas a tais cursinhos? Recursos do Governo Federal que deveriam ser
absolutamente destinados para o Ensino Público, mas que não são como o PROUNI e o FIEIS.
O PROUNI é um programa do Ministério da Educação, criado pelo Governo
Federal em 2004, que oferece bolsas de estudos em instituições de educação superior
privadas, em cursos de graduação e
seqüenciais de formação específica, a estudantes brasileiros, sem diploma de
nível superior. Já o FIES é destinado a financiar,
prioritariamente, a graduação no Ensino Superior de estudantes que não têm
condições de arcar com os custos de sua formação e estejam regularmente
matriculados em instituições não gratuitas,
cadastradas no Programa e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo
MEC. Esses tais “cursinhos” atuam como miragem de um paraíso fraudulento quando
nos referimos às faculdades privadas. Quando difundem ser o caminho seguro que
levam seus consumidores para dentro delas, quando sabemos que, na prática, o
vestibular de verdade que essas instituições exigem é a existência do
contracheque ou holerites dos pretensos candidatos a uma vaga em qualquer curso
que seja oferecido ou se estão aptos a serem “beneficiados” pelo PROUNI e pelo
FIEIS e só. Raros são os casos que ajudam alguém a passar no vestibular de uma
Universidade Pública e mesmo assim, não é de surpreender que este alguém seja,
provavelmente, oriundo de escolas privadas ou algum aluno excepcional mal
tratado pela mal tratada Escola Pública onde, infelizmente estudou a vida
inteira.
5. Observem que a existência de tais programas do
governo, do poder público e de tais “cursinhos” só acentua as falhas e deficiências
que existem no ensino brasileiro. É um indicativo cabal da sua péssima oferta e
qualidade. Quanto mais cursinhos e faculdades privadas existirem, pior fica a
situação da Educação Pública. Porque dinheiro público é usado para ajudar a
iniciativa privada em nome de uma educação que deveria ser um bem público, não
uma mercadoria que só poucos podem pagar. Por isso é escandaloso, quando as
escolas públicas são cedidas para servirem de picadeiro para os shows e
palhaçadas promocionais dessa minoria privilegiada. Mas escandaloso ainda:
quando quem fica aplaudindo, rindo, achando bonitinho e incentivando os alunos
a aplaudirem as pantomimas que são apresentadas são boa parte dos professores “da
casa”, isto é, dessas escolas públicas, do Priscila, João Bento lá na capital e
outras. Professores que, convenientemente, trabalham nesses cursinhos sob o pretexto
de estarem ganhando seu pão de cada dia. Quando, na verdade, se trata de manter
uma aparência de classe média, a antiga aparência perdida por essa categoria
profissional. Psicologicamente, é uma recusa a atual condição de proletários do
ensino. Então, para voltar a se nutrir da ilusão de pertencer à classe média é
capaz de fazer qualquer negócio, inclusive, programas por fora do serviço público.
Programas nesses prostíbulos do saber pago que considero tais empresas privadas
de “ensino”. Uma ação que só piora o serviço que essas pessoas prestam aos que
mais precisam da escola pública de qualidade para não apenas se conseguir uma
boa colocação no mercado de trabalho, mas saberem pensar e agir criticamente, com
argúcia política na sociedade em que vivem. Pois esse tipo de professor que
serve a dois senhores, o público e o privado não servem pra ninguém que não
seja eles mesmos. Lamento fazer parte da minoria que trabalha na Escola Pública,
de está entre aqueles poucos que ainda acreditam na democratização real do
Ensino Público e lamento mais ainda que muitos
desses garçons do ensino, garotos e garotas de programa do ensino privado,
serviçais do capital privado, acreditando serem da “classe média,” ousem dizer
que são meus colegas. Lamento pelas Escolas Públicas desse país onde exista
esse tipo de professor!
PAPERBLOG
VÁLIDA A INSCRIÇÃO DO MEU BLOG AO SERVIÇO DE PAPERBLOG SOB O PSEUDÔNIMO PEIXOTO 1967
Comentários
penso que toda essa parafernalha de arranjos, jeitinhos e permissividades que se faz corriqueiramente nas escolas publicas está ancorada no completo desconhecimento que a maioria de nós tem acerca do papel da escola junto à sociedade. não lemos nossas realidades, não sabemos onde estamos e tão pouco para onde queremos ir com o serviço público de educação neste país...estamos à deriva das vontades de todos e não temos objetivo algum.