UM CARDUME CHAMADO SINTERO
Desprof.Peixoto.
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Sociedade sem graça essa nossa em que estamos vivendo. Precisamos de coletivos
institucionais de vários tipos, tais como, sindicatos, centrais sindicais,
igrejas, associações de moradores e partidos políticos porque o estado, a empresa
e até deus são surdos diante das singularidades. Perante tais entidades não
existem isso que chamam de individualidade ou indivíduo. Essas não nos ouvem
senão por eles. Somos coagidos a nos agregar e servir-nos desses
intermediários, desses “coletivos” e a pagá-los bem, a nos anularmos como
pessoa, a nos ovelhizarmos na
marra. Sem matilha, sem bando; sem patota, sem gueto, sem pensarmos como
rebanho, sem sermos guiáveis por sindicalistas, pastores, governantes, professores,
diretores, reitores, representantes de ensino, síndicos, deputas e senadores;
sem nos travestirmos de abelhas em enxames; em manadas, em massa ou coisa
parecida: nenhuma supracitada autoridade se presta a nos ouvir. Ouvidos surdos
que mal escutam mesmo quando se grita bem alto perto delas. Triste sina essa
nossa, de formigueiro, rebanho que não existe sem guias, oráculos, heróis,
santos guerreiros e abelhas rainhas que nos agreguem e nos dêem sentidos para a
vida que levamos.
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Mas tais coletivos não prescindem dessas individualidades, dessas devoções
particulares, desses inúmeros crentes “conscientizados”, eleitores abobalhados,
escutadores, condôminos- seguidores associados. Ter audiência nas assembléias é
vital. Porque não há exames sem abelhas, manadas sem gados, rebanhos sem
ovelhas, bandidos sem mocinhos, heróis sem ninguém para salvar, messias sem ninguém
a lhes esperar. O sindicato é um bom exemplo que contradiz Sartre quando diz
que o inferno são os outros. Na prática, seu verdadeiro inferno é o de Dante por
que: [1] “O horror das
sociedades tradicionais [tipo sindicatos] é precisamente perder as relações,
perder o lugar, o sentido, a rede de crenças: o inferno é existir sozinho com o
peso terrível do haver existido: o
inferno para essas sociedades não são os outros [o governo, o estado, os
adversários], mas perder os outros, deteriorar-se tudo aquilo que o
posiciona, dá sentido, finalidade. O inferno de Dante é a materialização desse
medo fundamental.”
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Perder o outro; perder as bases; perder a categoria amorfa e “sem categoria”; perder
o cidadão colaborador; perder o acrítico filiado, fiel seguidor; perder até
mesmo os adversários, inimigos circunstanciados, internos, externos ou
eternizados; perder o lugar, o sentido, as demais redes de crenças: isto sim é que é o horror, o
medo que, visceralmente, apavora qualquer liderança de qualquer coletivo [isso
importa?], feitos geralmente por um grupo só. Por isso é importante ter
governos com que se possa brigar mesmo dissimulando a existência de gente deles
ocupando qualquer cargo lá; por isso para eles é relevante ter outra chapa ou
partidos com quem se possa disputar mesmo “contra” os inimigos triviais de sempre: PC do B, CTB, PSTU,
PO e PQPs, o que vier! O que interessa é a ilusão, a brincadeira, o competir
por competir sem levar a sério a necessidade se preparar antecipadamente para
luta que diz perseguir. Pois, para que perder tempo se estamos dissimulando?
Não existe luta de fato. Não existe oposição quando os todos estão do mesmo
lado. Oposição por oposição que termina sempre bem; sempre colaborando com a
situação sem nada, de fato, mudar.
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O formigueiro, o rebanho, o enxame, somos nós! Mas, nós quem? Quem são esses
“nós”? É difícil denominar objetivamente o que é esse “nós”: coletivo institucional
chamado de sindicato, por exemplo? Qual seria dessas idéias acima que melhor poderia
nos ajudar a identificá-lo? Nenhuma. Talvez “cardume” possa melhor conceituá-lo Talvez, essa definição
nos aproxime muito mais do que as outras; talvez nos deixem mais perto do que temos
vivenciado nesse lugar que chamamos aqui em Rondônia de SINTERO. [2] “O modelo cardume se aproximaria muito
mais daquilo que vivenciamos: todos juntos, sozinhos, incomunicáveis,
egoisticamente se protegendo, trabalhando, desejando, sonhando: a impressão de
comunidade, de sociedade, de cidade, de agrupamento, de classe social é somente
idéia, sobrevive somente como costume teórico, como inércia da opinião, como
ilusão dos sentidos.” Por isso, porque
não um cardume chamado SINTERO?
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Precisamos compreender que o capital superou essas classificações muito
banalizadas pelo pessoal do mundo sindical. Expressões como “companheiros”;
“categoria”; “base”; “massa”; “trabalhadores em educação”; “a luta continua”;
“ideologia” e por ai vai... Pouco se ouve ou lemos esse pessoal utilizar tais
jargões. Como Caldas também bem afirma: [3] “o capital já não precisa de nenhuma dessas
ilusões antigas, arcaicas, para se reproduzir; não precisa mais nem da
individualidade burguesa tradicional, nem das crenças de nenhuma religião,
filosofia ou prática: os liames foram sistematicamente cortados.” Vivemos num momento histórico onde não mais existe a antiga
sociabilidade a qual temos sido mal acostumados; a qual alguns insistem em
conservar por teimosia ou burrice política, mas que, na prática, não existem
mais. E isso os caras do sindicato, tem certa noção. [presumo eu.] Por isso, estão
tranqüilos e tem se dado bem em se manterem no espaço que tomaram num contexto
histórico que deixou de existir. Onde essas supracitadas ilusões antigas e
ações individuais não eram inócuas e nem inoperantes. Mesmo que, por descuido,
outro grupo venha a assumir o seu lugar: nada mudará. Porque, o sindicato chamado
por nós aqui, em Rondônia, de SINTERO ou de “trabalhadores em educação” se
tornou há muito tempo um cardume, onde toda a sociabilidade que eles dizem
promover se encontra diluída já há algum tempo. Categoria?Pura ilusão! Um
amontoado de indivíduos que se move a deriva. Fumaça que cabe em qualquer
garrafão. Que sina triste! Que lástima! Se tornou essa outrora agremiação.
[1];
[2] e [3]- CALDAS, Alberto Lins. O
CARDUME.
Consulta feita em 11/10/2011
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