Certas idiossincrasias dos parafusos, porcas e chaves de fenda do nosso sistema escolar brasileiro
“Não há democracia efetiva sem um
verdadeiro poder crítico”
Pierre Bourdieu
1- O livro A Reprodução (1970),
escrito em parceria com Jean-Claude Passeron, [cuidado leitores para não
confundir Passeron com Pasalon] analisou o funcionamento do sistema escolar
francês e concluiu que, em vez de ter uma função transformadora, ele reproduz e
reforça as desigualdades sociais. Quando a criança começa sua aprendizagem
formal, segundo eles, é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe, hierárquico,
autoritário desde a organização pedagógica até o modo como prepara o futuro dos
alunos. Há uma divisão ocultada de trabalho dentro da escola e dentro do
sistema educacional onde as escolas se encontram situadas. Se alguém quiser
verificar isso, basta perguntar para seu professor ou gestor escolar porque as
merendeiras entram na sala dos professores mais para servir cafezinho que para
trocarem idéias de igual para igual? Por que os sindicatos dos trabalhadores da
educação nunca foram presididos por um porteiro?Por que os que são tratados,
discretamente, como inferiores e subalternos no interior das escolas quando tem
a chance de trabalhar nos órgãos que definem e colocam em prática as políticas
públicas do governo para a educação agem de forma igual ou parecida com os seus
antigos gestores? Ou quando esses alimentam a ilusão de fazer parte do aparelho
sindical se portam como se tivessem um rei na barriga? Se sentem como se fossem
de uma casta superior?
2- O livro de Pierre Bourdieu e
de Passeron continua muito atual e aplicável em muitas situações e em grande
medida quando queremos compreender as manias esquisitas dos parafusos, porcas e
chaves de fendas que compõe o nosso sistema educacional de cima a baixo sem distinção.
Digo isso porque, geralmente é assim que muitos que fazem parte dele se
comportam, como meras ferramentas de sistema, meros reprodutores dos
comportamentos que transformam gente em aluno e este em trabalhadores
funcionais preparados para obedecer e produzir sem pensar. Há certas pessoas
que funciona como chave de fenda nos sindicatos dessa categoria que costumam
apertar muitos parafusos e que, vez por outra afirma que mesmo ficando em stand
by sempre sabe quem fala mal dele nas escolas, por exemplo, e passa a perseguir
os caras até dentro das repartições públicas. Isto em nome da democracia
inclusive. Seu santo nome, sua santa imagem jamais podem ser objeto de
profanação, sátira, crítica ou até de uma mera brincadeira. Não importa: que todas
as porcas e parafusos se curvem, ou seja, curvados na marra diante de qualquer chave
de fenda dentro do aparelho estatal ou sindical!
3- Só o exercício livre da
crítica pode garantir uma efetiva democracia fora e dentro das escolas
públicas; fora e dentro do sistema escolar como um todo e fora e dentro dos
sindicatos de classes. Aqueles que se encontra em posição de chave de fenda têm
que começar a se questionar e permitir serem questionados se não estão sendo autoritários
demais, burocráticos em excesso, hierárquico em absoluto ou tendo uma postura
policialesca em relação as opinião alheias, dos parafusos e porcas que tem que
liderar dentro do ambiente de trabalho, seja nas escolas, repartições ou
sindicatos. E aqueles que, por hora, ocupam uma função de porca ou de parafuso
nesses sistemas, têm que parar e pensarem senão estão conformados demais em
serem tratados desse jeito pelas chaves de fenda de confiança ou eleitas para
com eles trabalharem? Se seu destino é morrerem ocupando essa posição? Ou se
fazendo o papel de delatores de outras porcas e parafusos vão galgar nobres
posições e virarem chaves de fenda adjuntas? Esse é um desafio de todos: o
exercício da crítica já que dizem que estamos em plena era da gestão
democrática. Agora, se somos podados do poder da crítica ou nos conformamos em
concordar com tudo caladinho, quietinho, escondidinho, camufladinho; senos contentarmos
em entra no armário e dele não sair mais, estaremos com certeza dando razão ao Bourdieu
e ao Passeron. As teses do livro A Reprodução jamais deixarão de serem verdades
confirmadas por nossas ações.
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