Professor: “O senhor não é um nada; é um pedaço de bosta!” Diz o Brasil na ficção e na realidade.
Trecho d’um cordial “diálogo” entre o coronel Melki Tavares e o Professor Josué da novela Gabriela de Jorge Amado que nos dá uma idéia aproximada de como os professores eram visto na década de 1920 na Bahia e no Brasil inteiro. Não só no século XX como ainda no século XX mesmo de um jeitinho confuso e disfarçado. Se no Brasil, professores são socialmente invisíveis e, economicamente, improdutivos. Para os poderosos de plantão, na prática, não passam mesmo de um pedaço de bosta, fácil de enganar. Trouxas que são enrolados até pelo seu próprio sindicato da ocasião. Pior, muitos agem que nem gabolas: cheios de si, diante de supostos alunos imbecis e que quando conseguem um carguinho qualquer fora de sala de aula dispensam o mesmo tratamento aos colegas que ainda continuam dentro delas e quando entra num mundo sindical, [quase todos] se corrompem por “poucos tostões” juntos com seus advogados contratados para fingirem nos dar proteção. Eis o trecho do diálogo de nossa reflexão:
Após o coronel Melki jogar um cacau
sobre o birô do professor Josué...
— Coronel Melki: (num gesto
intimidatório) Sabe o que é isso professor Josué?
— Professor Josué, assustado,
responde: sei sim coronel! É... Cacau.
— Coronel
Melki, após cortar com a peixeira com violência o cacau... Pergunta: Sabe
mesmo? Tá vendo a semente aqui dentro oh! É isso que nós vendemos para o
estrangeiro. E lá professor Josué, eles fazem chocolate para o mundo todo! Isso
é mais que cacau, é riqueza. Isso aqui é a riqueza de Ilhéus! O senhor sabia
disso professor Josué?
— Professor
Josué, ainda mais assustado, responde: sei sim coronel! Ê, ê, ê, por isso que o
cacau é chamado de ouro negro.
— Coronel
Melki: “Tu sabias de ouvir falar... Sabia por ter lido em algum livro. Eu não
professor. Eu sei por que eu planto, eu colho, eu crio riqueza e o senhor? O
que é? Me diga!”
— Professor Josué, gaguejando, eu, eu,
eu...
— Coronel Melki: o que é?
— Professor Josué: “eu
sou um, um professor”.
— Coronel
Melki: “o senhor é um invisível! Quantas vezes já devo ter lhes cruzado
o caminho na cidade, mas, nunca lhe vi? Eu nunca lhes reconheço professor
Josué!” Nem mesmo quando fica espiando a janela de minha filha... Nem quando
lhes vi mais ela conversando na frente da mina casa. Sabe por quê?
— Professor Josué, nervosamente,
responde: não senhor coronel.
— Coronel Melki: “porque o senhor não é um nada; é
um pedaço de bosta!” E ficando a peixeira no birô diz, num tom
ameaçador, ainda teve a ousadia de colocar o lho em cima de minha filha.
— Professor Josué, enxugando o suor da
testa com seu lenço e tremendo responde: coronel, eu tenho o maior respeito por
Malvina.
— Coronel
Melki: Calado! Calado professor que eu ainda não terminei! A minha filha foi
criada—veja bem professor— pra casar com filho de fazendeiro. Um cabra que
tenha dinheiro suficiente pra sustentar ela e os filhos dela. Apesar de que meu
próprio dinheiro já me basta! Hoje eu vim aqui prá lhes dá uma coça prá acabar
com esse seu atrevimento professor. Não é Lorin? Mas minha mulher que é uma
jumenta, disse uma coisa que presta. Malvina, minha filha tem umas idéias,
idéias demais.
— Professor
Josué: Malvina é inteligente, é muito sensível, é...
— Coronel
Melki: Pare de me aveludar o telhado, pare! Talvez, fosse melhor que a Malvina
casasse de vez mesmo como um professor. O senhor tem fama, uma reputação de
homem sério, ajuizado e, do lado de cá, me preocupo demais com essas idéias da
minha filha, então, pensei, pensei, hum..., eu permito sim que vosmicê faça a
corte a minha filha.
©DesProf.Peixoto
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