‘Base do lulismo é consumo, não é política’, afirma sociólogo Rudá Ricci
Autor do livro ‘Lulismo’ acredita que voto popular é mantido com manutenção de crédito e administração da dívida das famílias de baixa renda. |
Edição do
dia 10/10/2012
O
Supremo Tribunal Federal
condenou a maioria dos réus do mensalão, incluindo o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. Enquanto políticos petistas
temem a influência do julgamento nas eleições municipais, a oposição tenta
ganhar os votos dos insatisfeitos.
Segundo
o sociólogo Rudá Ricci, a decisão do STF influencia menos o resultado do pleito
do que se imagina, porque a preocupação de parte do eleitorado é o poder de
compra. “A base do lulismo é o consumo, não é a política. Enquanto tiver alguma
forma de sustentar o crédito e administrar a dívida crescente das famílias de
baixa renda, você ainda tem o voto popular”, afirma o autor do livro ‘Lulismo’.
O
historiador Boris Fausto compartilha da mesma opinião de Ricci, mas destaca os
efeitos que o mensalão pode ter na postura do eleitor. “A corrupção não é uma
pauta preferencial, mas o julgamento contribui bastante para que ela tenha
chegado à massa. A população pode não ter dado muita importância para esse fato,
mas só a constatação já tem ressonância. É possível que o discurso político
mude de ênfase com relação a certos setores sociais”, acredita.
No
primeiro turno das eleições municipais, o PT foi campeão de votos, aumentando o
número de prefeituras e avançando principalmente em São Paulo e Minas Gerais. “O PT montou uma máquina apoiada
em uma massa de votos e em melhorias sociais, não importa se isso se deve ao
partido ou não, que percorreu os dois governos e faz com que ele tenha um poder
que nunca um partido brasileiro teve”, avalia Fausto.
Com
base no livro ‘Os sentidos do lulismo’, de André Singer, Ricci observa uma mudança
na postura do partido. “A partir de 2006, o PT deixa de ser um partido que tem
como base eleitoral os mais instruídos e passa a ser um partido do povo. Ao
querer ser muito popular, você rebaixa a discussão política, porque essa massa
de eleitores é absolutamente conservadora e muito pragmática”, diz o sociólogo.
No
entanto, Boris Fausto ressalta que o lulismo corre riscos. “As intervenções do
Lula de forma altamente autoritária em Recife e Minas Gerais são
sinais muito grandes de uma possibilidade de crise”, aponta. Ricci concorda que
há prejuízos para a imagem do ex-presidente. “De um lado, ele sai mais
fragilizado do que estava. Lula cometeu erros grosseiros na negociação com PSB
e dividiu o PT ao longo do país. Mas ele tem a máquina, popularidade e uma
presidente mais popular do que ele, que ele sabe usar quando é necessário”,
afirma.
Fonte: http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/10/base-do-lulismo-e-o-consumo-nao-e-politica-afirma-sociologo-ruda-ricci.html
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