Por que ninguém mais quer ser professor na escola pública?
“Ninguém
quer
ser professor com o salário que ganha e com as condições de
trabalho vigente”.
1-
O
desinteresse
dos alunos pelos estudos, aumento dos casos de indisciplina,
violência e atos infracionais nas escolas preocupam os educadores.
Além dos baixos salários e as más condições de trabalho, são as
principais causas geradoras de angústia, insatisfação, medo,
desestimulando-os ao exercício da profissão.
Frase
como, por exemplo: “os jovens de hoje não tem limites”, “não
querem saber de nada”, “não estudam”, “são apáticos”,
“sem educação”, tornaram-se comum. As escolas públicas são
muito mais vulneráveis a esses problemas pelas suas características:
plural, universalizada, composta por uma clientela heterogênea
quanto à condição econômica, social e cultural.
2-
A
educação
básica na escola pública vai mal. As universidades reclamam, dizem
que os alunos que chegam as universidades tem informação, mas são
incapazes de compreendê-las.
De
que será a culpa? Da escola? Dos educadores? Do Estado? Dos Jovens?
A racionalidade nos indica que a culpa não é dos nossos jovens,
afinal, eles não nasceram prontos, foram produzidos assim na
configuração política e social em voga. Sabemos que desde que o
“mundo é mundo” os jovens sempre manifestaram certa rebeldia. O
que mudou foi à configuração da rebeldia. A indisciplina e a
violência revelam-se cada vez mais cruel e perversa.
3-
A
indisciplina
e a violência na escola é a reprodução da violência que ocorrem
na sociedade. A escola não é desconectada da sociedade, faz parte
dela.
As
condições políticas e sociais do país, má distribuição de
renda, impunidade, corrupção, baixa escolaridade e de renda da
maior parte da população são exemplos de problemas sociais que
refletem na escola. Além disso, as mudanças sociais contemporâneas
ocorridas no modelo de família refletem na formação dos jovens.
Atualmente os pais necessitam trabalhar, as crianças e
adolescentes tem ficado cada vez mais aos cuidados de terceiros ou
sós, numa fase da vida tão importante para a educação de valores
indispensáveis à boa convivência humana. O pior é que, muitas
vezes, a família não é referência. Esses problemas se agravam nas
famílias de baixa renda, eles
não
podem pagar uma cuidadora
capacitada
ou colocar numa escola infantil de qualidade. Faltam vagas nas
creches e de projetos alternativos que acolham essas crianças e
adolescentes enquanto os pais trabalham.
4-
Pois
bem,
esses jovens indisciplinados e violentos estão nas escolas, não é
a maioria, mas são muitos. Não estão lá para estudar, estão ali
porque a escola é um ambiente social deles ou porque
são
obrigados.
No
final dos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio os
problemas se agravam. Aumentam à falta de respeito, alunos se
recusam a fazer atividades e estudarem, atrapalham as aulas, brigas,
xingamentos, palavrões, depredação do patrimônio público,
bulling e ameaças são exemplos de ocorrências diárias no
cotidiano das escolas. A
figura
do professor,
que
antes, e não faz muito tempo assim, talvez uns vinte ou trinta anos
atrás, tinha
a
função de professar o conhecimento,
hoje
não é, mas assim. Hoje, ele tem que mediar conflitos, chamar
atenção dos alunos, enfim, tentar primeiro manter a ordem para que
a sala de aula tenha condições de fazer o que ele fazia
antigamente.
5-
A
questão
é que manter a ordem da sala está cada vez mais difícil, os
professore não obtém êxito. É humilhado, ameaçado e ofendido com
palavrões.
O
bom aluno que tentar defender o professor e a ordem, também é
ameaçado. Outros, menos violentos quando é chamado atenção, olham
para o professor com “cara” de deboche e respondem: “tô
suave”; “não dá nada não professora”. Ah! Vai me mandar para
a diretoria? Vai chamar meus pais? Conselho Tutelar? Boletim de
Ocorrência? Fica a vontade “fessora”. “Não dá nada não”.
Suspensão? Que bom vou ficar uns dias em casa e ficar mais na
internet, “na brisa”, vou curtir.
6-
Os
educadores
trabalham em situações extremas de nervosismo, medo e angústia.
Preparam aulas maravilhosas e não conseguem colocar em prática. Não
é
possível produzir se o ambiente e as condições não são
favoráveis,
o
resultado é a baixa qualidade do ensino e não está pior porque
muitos não desistem.
A
maioria é consciente de suas responsabilidades: transformar vidas,
mudar a realidade caótica de muitas crianças e adolescentes,
prepará-los
para
serem cidadãos críticos, conscientes, responsáveis e com uma
formação moral e ética por uma sociedade melhor. O paradoxo é que
eles são responsabilizados pelo fracasso e o insucesso escolar.
Angústia dupla. Na hora de receber o salário, outra angústia.
7-
Jovens,
educadores e pais
são
vitimas do modelo educacional político social e histórico.
A
melhoria da qualidade da educação acontecerá na medida em que o
país melhore a qualidade de vida da sua população, valorize a
nossa cultura e desvincule do modelo de práticas
curriculares
americanas
e
eurocentrista,
uniformizadora
e colonizadora.
Por
enquanto, qualquer
intervenção
nas escolas é apenas um paliativo e isso não dispensa qualquer ação
dos sistemas de ensino.
Por
exemplo,
capacitar os educadores é muito importante, mas hoje não é esse o
principal problema. O maior problema é tê-los. Ninguém quer ser
professor com o salário que ganha e com as condições de trabalho
vigente e se nada for feito a educação brasileira travará em
breve.
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