Professor: mais um dia de hipocrisia
Nazareno, não é negão e está a esquerda de camisa branca. |
Professor
Nazareno*
1- O
dia 15 de outubro por aqui é dedicado aos professores. Um dia miserável e até
amaldiçoado para quem escolheu uma das profissões mais ingratas do Brasil: como
ensinar alguma coisa num país onde as pessoas não querem aprender? Penúltimo
lugar numa pesquisa feita em Londres sobre a valorização dos docentes, o Brasil
amarga a triste rotina de conviver a cada dia que passa com um déficit cada vez
maior de profissionais nesta área em que todos são hipocritamente unânimes em
afirmar: “é a profissão mais importante na vida de qualquer ser humano”.
Talvez a carreira profissional mais desvalorizada da atualidade, ser professor
no nosso país é um desafio que persegue a rotina dos “poucos heróis” que
tiveram a coragem suficiente de enfrentar a família para se aventurarem numa
vida sem futuro e pouco rentável.
2- Suportar
calado esta horrorosa data é uma desgraça, uma espécie de Armagedon para
qualquer professor. Quando não é obrigado a trabalhar em seu próprio dia, os
docentes muitas vezes têm que aturar festinhas estúpidas de seus alunos que,
cheios de boas intenções, presenteiam seus homenageados com balinhas, doces,
refrigerantes e outras guloseimas açucaradas, parece até que de propósito, já
que fingem não perceber que a maioria de seus mestres está com as taxas de
diabetes, colesterol e triglicerídeos lá pelas alturas. Mas o raciocínio é
simples e até macabro: se não matar os condenados, faz muitos deles adoecerem e
por isso, “ganham de presente” vários dias sem aulas. Há muito tempo que
professor não ganha presentes de seus alunos a não ser murro na cara,
deboche, desdém, ameaça dos pais, diretores e toda a sorte de violência e
intimidações.
3- Mas
quem perde com isso não são somente os docentes, é a própria sociedade e o país
inteiro. O Brasil tem um dos piores sistemas de educação em todo o mundo. Nunca
valorizamos o saber e só somos a sétima economia graças à produção de
commodities e não de conhecimentos. Esse negócio de que o professor é o único
profissional que forma todos os outros profissionais é pura balela, papo
furado, hipocrisia da sociedade. Se assim fosse, seríamos bem mais valorizados
e teríamos um salário de médico, de jogador de futebol ou de político. Porém a
culpa não é só do Governo ou do Poder Público. A sociedade até incentiva esta
desvalorização: ninguém cobra nem exige nada em beneficio da educação nem dos
educadores. Nas greves, apanhamos da polícia e às vezes, na sala de aula, dos
alunos. Somos a escória nacional.
4- Neste
triste dia, políticos e autoridades vão à mídia para se confraternizar com os
educadores. Só hipocrisia e enganação. Na telinha, tecem loas e mentiras
falando sobre a “importância do educador” e outras lorotas apenas para
enganar os eleitores otários, pois muitas vezes não querem que seus próprios filhos
sigam a “honrosa profissão”. De fato, no Brasil menos de dois por cento
dos alunos querem ser professor enquanto que na Coréia do Sul, China, Finlândia
ou Japão esse número ultrapassa os 90%. Aqui, quando um aluno diz que quer
seguir esta carreira é logo taxado de louco, idiota ou imbecil. Sem salários
dignos, sem motivação, sem esperanças, humilhados, estressados e já
depressivos, muitos educadores são perseguidos até pelos próprios sindicatos da
categoria. Uma sociedade que não valoriza a educação e nem o professor deveria
ser sincera e ter pelo menos vergonha de comemorar esse maldito dia dedicado a
ele.
*É
Professor em Porto Velho e amigo do Peixoto.
Fonte: http://blogdotionaza.blogspot.com.br/2013/10/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html
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