A quaresma e o Léo Ladeia
1- Podemos numa busca rápida no dicionário ou no google
descobrir rapidamente e facilmente os significados possíveis para a palavra
quaresma. Entre eles podemos aqui citar: Ela é originária do latim, “quadragésima
dies” (quadragésimo dia). Ela faz parte do calendário litúrgico, isto
é, do calendário de atividades de algumas confissões cristã tais como a do
catolicismo, dos ortodoxos, anglicanos e luteranos. Mas, cada expressão
religiosa abraçada pelo ser humano tem sua concepção de tempo e espaço e sua
maneira própria de dividir o seu tempo. Portanto, a lida com o que chamamos de
“tempo” não é exclusividade do cristianismo e nem tais concepções escampam do
processo histórico. Isto é, a compreensão que temos do mundo, pessoas,
linguagens e demais coisinhas sofrem ação do tempo, a despeito das tradições
religiosas tentarem cristalizar ou eternizar os conceitos por ela consagrados.
Então, quaresma no sentido consagrado pelos cristianismos supracitados é um
período de tempo onde os devotos dessas confissões se preparam para a
celebração da festa da páscoa, que comemora a ressurreição e a vitória de
Cristo depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrados nos Evangelhos.
Já a páscoa para os Judeus é a comemoração da libertação dos diversos
cativeiros vividos por esse povo ao longo de sua história. Enfim: em seu
simbolismo, este número [quadragésimo dia ou quaresma] não significa um tempo
cronológico exato, ritmado pela sequência de dias; mas uma representação
sociocultural de um período de duração significativa para uma comunidade de
crentes.
2- Para se comemorar ou festejar a pascoa quer signifique
libertação dos cativeiros históricos vividos por um povo ou libertação
espiritual, isto é, morte de tudo que faz mal e da ressureição de tudo que faz
bem ao humano, é preciso passar por uma experiência de purificação. No caso
cristão, esta preparação é feita através de jejum, abstinência de carne,
mortificações, caridade e orações. Poderíamos resumir tais preceitos como uma
representação do que poderíamos evitar na nossa sociedade de hoje: as diversas
formas de consumismo, excessos, gula, ambições, prazeres coletivos ou
individuais, indiferenças, injustiças e etc. O importante é ficarmos bem por
dentro e por fora para que no dia da Páscoa, possamos festejar alguma forma de
libertação por nós obtida.
3- Mas, como disse antes, conceitos, palavras e linguagens
sofrem a ação da história. No caso brasileiro a quaresma jamais foi de fato um
período de preparação. Não, pelo o contrário. Tem, ao longo da história, sido
entendido de uma forma, ironicamente, pagã. Então, o que ocorre é o oposto do
que alguns cristianismos tem tentado fazer valer. Por exemplo: ao invés de jejum,
alguma pessoas com diabete, come guloseimas até estourar. Ao invés da abstinência
de carne: nesses dias é o que mais se come regado a muita cerveja aumentando
com isso a obesidade de muita gente que não pode engordar. Ao invés de
mortificações, o apego desenfreado, o conservadorismo no pensar e no agir por
causa das nossas conveniências mil. Ao invés da caridade, o assistencialismo barato
de que se vale alguns privilegiados que detém as concessões públicas dos meios
de comunicação para fazer média diante da sociedade. Ao invés das orações, as
canções que nos alienam e nos tornam cegos e surdos as causas de nossas
desgraças.
4- Na capital de Rondônia, Porto Velho, não podia ser
diferente. Como uma boa, mansa e obediente colônia que sempre foi da região
mais rica do Brasil a quaresma tem que ser pagã também! Afinal na terra do
Confúcio Moura onde tudo se copia, aqui não poderia ser diferente. Porto Velho
pode até afundar por causa da histórica cheia do Rio Madeira, pode até mudar de
nome para Atlântida, mas a quaresma tem que ser pagã. Quem tem que jejuar, se
mortificar, se abster da carne e se contentar com as esmolas caridosas aqui é
são os atingidos pela da cheia, os demais não!
5- E o Léo Ladeia? Ah, este disse hoje no programa “Papo de
Redação” da TV Candelária, a concessão do senhor Everton Leoni de todos os
sábados que: “uma coisa não tem nada a ver com a outra!”. É, só podia ser
baiano! E um baiano manso mesmo. Não consegue ver problema ético algum no gasto
que a Prefeitura de Porto Velho vai fazer para que o carnaval aconteça em meio
a uma tragédia sem igual na história da cidade. Mas, quem disse que baiano sabe
o que é quaresma? Se o tema fosse folia, então mestre não haveria igual. Que a
metade de Porto Velho afunde, mas meu carnaval eu curto ante! Viva Momo! Afinal, o dinheiro público não é do público? Inclusive dos foliões?
©Blog do
Desprof.Peixoto.
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