"resistir é inútil"
Desprof. Peixoto
A frase "resistir é
inútil" entrou na cultura popular depois de seu uso em Jornadas nas Estrelas,
A Próxima Geração. Os Borg usam a frase em vários episódios de Jornadas nas
Estrelas e no filme: Star Trek: O Primeiro Contato. Em um dos episódios, o
capitão Picard foi assimilado tornando-se o Borg chamado “Locutus” que também
reproduz esta frase ao final do episódio "O Melhor dos Mundos". Esta
frase foi eleita como a 93ª melhor frase da história da televisão pela TV
Land.7. Fez tanto sucesso que foi usada como mensagem do Exército Americano
para as forças do Talibã durante a Guerra do Afeganistão. Como o Prof. Dr. Valdir
Aparecido costuma falar em suas aulas na UNIR/UFRO: “Olha como é interessante!”
O que foi uma frase de efeito do cinema de ficção científica do cinema
americano se fez sólido entre nós. Não há como resistir às mudanças em curso do
mundo ocidental no que diz respeito a inúmeras instituições. Uma delas diz
respeito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. É o inevitável. Resistir é inútil! Ao longo da história o que
era minoria pode algum dia se tornar maioria, não necessariamente em termos
numérico. Casamento como qualquer outra instituição nunca foi divina, mas
humana, histórica, portanto, sujeita a mudanças ao longo do tempo. Antes de o
Cristianismo triunfar na Europa as uniões se davam a moda do “paganismo” como
assim rotulavam os cristãos os nãos cristãos. Com o triunfo dum certo
cristianismo, o modelo que chegou até nós havia se transformado em algo
aparentemente sólido: num sacramento. O casamento cristão se tornou uma “união
indissolúvel, celebrada por um sacramento” [1] que substituiu antigos costumes de
poligamia, provocando grande mudança nos hábitos europeus.
O casamento no formato de certo
cristianismo hegemônico apareceu no século 10 como uma alternativa ao formato
considerado pagão. Tinha como substrato um interesse evangelizador. Na época, acreditava-se
que filhos de casais cristãos, por tabela, seriam também cristãos. Uma lógica semelhante
à ideia medieval de nação, nacionalidade, pátria e outros conceitos similares. No
que diz respeito à nacionalidade, por exemplo, a regra “cuiús régio, eius nation”
isto é: “quem governa decide a nacionalidade” no dá uma vaga ideia de como, antes
do advento do chamado tempos modernos se concebiam tais conceitos. Depois, ao
longo da formação dos Estados Modernos, essa nova modalidade de poder instituído
foi com mais força sendo o protagonista, agente e paciente simultaneamente,
direta e indiretamente de todas as mudanças sociais que hoje compreendemos como
modernidade. O Estado, não importando o governo que o gerencia, vem sendo o
grande demiurgo de nossas vidas. Zygmunnt Buaman[2] explica muito bem
isso no seu livro “Identidades”. Segundo Bauman [2005:27]; “não fosse o poder
do estado de definir, classificar, segregar, separar e selecionar, o agregado
de tradições, dialetos, leis consuetudinárias e modos de vida locais,
dificilmente seria remodelado em algo como os requisitos de unidade e coesão da
comunidade nacional”. Ora, em tempos onde esse mesmo Estado vem dispensando assumir
antigos papéis que antes jamais abririam mão, como por exemplo, o da
necessidade passada de ter uma religião oficial nacional, temas como formato de
família não tinha como ficarem imunes às mudanças que o mundo ocidental vem passando.
As pessoas ligadas as assim chamadas “classes sociais” dominantes mudam de
mentalidade também e não apenas de composição. Ao mudarem, mudam também seus
gerentes dentro da máquina estatal até mesmo como consequência das mudanças
sociais por eles direta ou indiretamente protagonizadas com a participação em maior
ou menor escala de outros protagonistas que estão fora do Poder instituído.
A cristianização do casamento por
si só já foi uma mudança na história do mundo europeu ocidental e que perdura
até hoje, más não da forma como estabelecido no século 10 D.C. De lá para cá
muita água passou por debaixo da ponte. E em tempo de modernidade líquida como
costuma dizer Bauman, o Estado Moderno, por interesses próprios que não convém
no momento aqui discutir, resolve trocar todos os figurinos do seu passado sem
renunciar ele próprio sua existência. O Estado pós moderno sabe se preservar
como um demiurgo, isto é: um artesão divino, um princípio organizador do
universo que, sem criar de fato a realidade, modela e organiza a matéria
caótica preexistente através da imitação de modelos tidos como eternos e
perfeitos, vem incansavelmente se ajustando e forçando o ajuste de todos independente
de suas vontades, crenças e convicções. Mostrando para todos que tudo o que é
sólido, se desmancha no ar, inclusive o formato do próprio Estado. Saindo da
cena para retornar num formato diferente, mas, mantendo seu papel de ator
principal.
Muitos assim conhecidos no Brasil vulgarmente
e genericamente como “crentes” ou “evangélicos” não estão imunes essas mudanças
apesar da sua suposta inabalável fé numa suposta solidez doutrinária. O Estado contemporâneo
vem mostrando que transforma toda essa “solidez” em líquido. Enganam-se quem
acredita que, por exemplo, o tal Silas, o Malafaia, seja sólido. Nunca foi.
Basta atentar para o fato de ele ser midiático. Se a maioria dos dirigentes
supremos das assembleias de deus ligadas A CGDAD, isto é: Convenção Geral das Assembleias
de deus não tivesse mudado e tivesse se mantido avessos a simples posse de um
aparelho de TV por parte dos leigos num passado bem recente, ele não existiria.
Ele se tornou com isso em produto, em mercadoria de consumo chamado “gospel” e
nesta condição luta para permanecer porque vive melhor de quem o consome ou de
quem o “come”: os evangélicos dark. Também basta atentar para a própria sigla
desse segmento de “crentes”: CGDAD. O próprio nome já diz: é uma Convenção. Neste
mundo globalizado, nenhuma convenção tem solidez alguma e, por isso, é forçado
a se adaptar. Agora os pentecostais da Assembleia de deus e outros segmentos
similares ou genéricos tem que se adaptar de alguma forma se quiser se sentir
parte de alguma coisa. Este sentimento de pertencimento também faz parte de
suas angústias existenciais mais do que nunca nesse novo tempo. Por enquanto
estão pastosos, mas chegará o dia em que ficarão líquidos de vez e suscetíveis o
bastante para caber em qualquer frasco que aparecer onde possam se abrigar. É
inevitável e resistir é inútil! Basta lembrarmo-nos do caso da mais famosa
integrante das Assembleias de deus no Brasil: a pós-moderna pastora lésbica Lanna
Holder, ex-missionária dessa “tradicional” denominação evangélica. Só saiu da
denominação porque o grau de solidez dessa agremiação cristã ainda estava muito
sólido. E suas preferencias proibidas pelos caciques dessa igreja não tinha
espaço para ficar. Mas, há tantas outras Lanna Holder enrustidas transitando
entre eles ainda só esperando o momento de se assumir dentro do grupo sem sair
dele. Há como tem! É inevitável, é uma questão de tempo.
Os antigos cristãos gnósticos foram
combatidos e contidos, mas sua concepção de demiurgo como aquele ser
intermediário de Deus na criação do mundo, responsável pelo mal que não poderia
ser atribuído ao Criador supremo continuou subliminarmente subscritos nas
doutrinas ortodoxas que tratam da identidade do poder que se equivalia ao do Estado
Moderno e que por ele foi apropriado. Essa visão ainda resiste em mudar, basta
ver como segmentos ditos evangélicos lutam para ocuparem hoje posição de poder
no interior do Estado na esperança de livrar o deus que dizem adorar de uma
provável pecha de responsável pelas barbaridades do mundo atual. Mas, não se
deram conta que o Estado não veste mais esse papel de demiurgo cristão. Ele
mudou de guarda-roupa. Ele não se contenta mais em ser um reles intermediário,
um despachante qualquer. Em tempo de modernização líquida, não há mais
intermediários e o deus cristão, paradoxalmente, não pode ser mais protegido.
Este papel social foi absorvido plenamente pelo Estado.
Então, diante dos fatos
relacionados à notícia recente de que, numa decisão histórica, a Suprema Corte
dos Estados Unidos legalizou nesta sexta-feira (26) o casamento entre pessoas
do mesmo sexo em todo o país. E que devido ainda ao fato de sua condição imperial
no mundo atual, os gay dos países sob sua órbita e os simpatizantes gayzistas
como diz Olavo de Carvalho e seus vorazes séquitos vão ter que engolir seco
mais esse caroço espinhento. É só uma questão de tempo. É inevitável! Ainda
mais quando essa decisão provém de um demiurgo tão poderoso como os EUA! Paradoxalmente
a pátria de onde também veio o pentecostalismo brasileiro. A pátria dos gays é
a mesma do assembleianos de deus. Que ironia!
A recomendação que deixo,
infelizmente, é essa: RELAXEM E GOZEM! Tirem proveito disso. Lembram-se daquele
ditado popular: "Amigos, amigos... negócios à parte"? Pois é, façam
isso! Entendam que essas e outras mudanças que vem acontecendo nada mais é que
reinvenções do capital dos produtos que este capital produz e vende. Para isso
existe hoje o Estado. No começo da modernidade o que os “crentes” acreditavam
tinha o aval, o endosso do estado, especialmente dos estados protestantes,
agora, com a mudança de guarda roupa que os estado ocidentais vem fazendo, não há
mais condições de procurar brechós para se salvar ou de voltarem a produzir as
velhas roupas que um dia foram hegemônicas. Adapte-se! Façam como velho tio meu:
não resista!
Esse meu um parente próximo teve
uma loja grande no Recife e muito sortida. Ele sempre foi um ultra dogmático
pentecostal. Imagine um pentecostal conservador... Pensou? Pois é, ele é mais
conservador do que você imaginou. Independente disso é uma pessoa generosa, boa,
sorridente, excelente pai e tio. Mas, em se tratando de suas convicções
pentecostais, sempre optou por uma mentalidade ultraconservadora, dogmática.
Pois bem, na grande loja que teve, ele vendia de tudo, inclusive mercadorias
para a festa do carnaval e para as festas juninas. Festas abominadas na época
pela denominação evangélica que ainda ele pertence. Talvez por ter sido um
prestigiado e poderoso presbítero da Assembleia de deus, na época, ninguém da
comunidade dele ousa colocar suas convicções em dúvida ou censurá-lo
publicamente. A despeito disso, precisava viver e educar os filhos. Continuou
mantendo o figurino pentecostal, mas separou-o dos seus negócios. E assim, vendendo
de quase tudo, inclusive, mercadorias abomináveis para sua fé, sustentou sua
família. Se hoje tenho um primo poderoso economicamente, integrante do clero
pentecostal e do corpo de seus inquisidores oficiais, digo, advogados da
denominação a que pertence, ganhando muito dinheiro para defender o clero a
qual deve lealdade e defende-los tanto contra os hereges internos quanto
externos, isso tudo foi graças ao dinheiro ganho pelo seu velho e honesto pai
vendendo de quase tudo, inclusive mercadorias para o carnaval e são Joao. Então
aprendam ganhar com a situação e compreendam: Resistir é inútil!
Referencias:
[1] http://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/casamento.htm
[2] BAUMAN, Zygmunt. Identidades: entrevista
a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro, Zahar, 2005.
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