Sem porque comemorar...

1. Escrevo agora sentindo dores na altura do meu ombro esquerdo. Como se estivesse recebendo uma paulada nele de maneira intermitente. Esta dor veio somar as que já ganhei ao longo dos meus 47 anos que completarei as 16 horas do dia 01 de julho. Pois é, né? Quem me mandou podar o pé de manga espada do quintal sozinho, me apoiar de forma errada, sem nenhuma amarra de segurança e cair de uma altura de quase 3 metros, logo após o galho que cortei cair após a base dele voltar a posição original movendo a escada, me fazendo desiquilibrar e cair no chão como um fruta pão inchado?
Neste dia pensei ter quebrado meu braço, mas não. Consegui me levantar bastante arranhado, tomar um banho, suportar o ardor que a água provocava em contato com meu corpo amolecido da queda, pedi ajuda para um amigo diretor de escola e fui levado para o Hospital Central onde, simplesmente me deram um soro, tiraram umas chapas e que um médico se limitou a me dizer, correndo, no fim do seu expediente que não quebrei o braço e tchau! Putz! Olha que pago plano de saúde!

2. Desde 20 de outubro de2008 que meu prazo de validade de professor de história da Escola Pública de Rondônia foi vencido na marra, a base de um solavanco chamado assédio moral no trabalho que sofri– eis a ironia– numa das duas escolas em que hoje trabalho. Nunca mais fui o mesmo! Nunca mais fiz o que sabia fazer de melhor. Meu trabalho passou a ser outro. Mas que trabalho? O que jamais planejei para mim mesmo: ser um professor que não ministra aula. Desde que fui violado na alma, na minha estima, nas minhas esperanças, na minha alta confiança, na minha capacidade de aguentar o tranco, o peso e as dores do meu ofício para qual me preparei, minha vida foi de suportável com alguma chance de superação para quase insuportável, movido a Rivotril e ao Amitril, sem esperança alguma de superação. Foderam-Minh ‘alma e ela jamais foi a mesma desde então. Não cito o nome da desgraçada que desencadeou isso em mim, porque não quero que ela seja por mim lembrada. O foda é que foi um agente do Estado que me fez tamanho mal sem me possibilitar nenhuma chance de tratamento, de restauração e cura. Tenho que conviver com isso até sabe-se lá quando. Minh’ alma ficou carente de beleza e meus olhos não a encontra onde hoje me encontro.

3. Sinto-me ilhado cercado de tubarões por todos os lados. Nunca desejei tanto ter o poder de retornar para perto da minha mãe, conviver com ela. Olha só a ironia: saí do Recife para sair da órbita dela e agora desejaria voltar a orbitar ao seu redor. Seria isso nostalgia? Não sei! Sei apenas que o lugar e a situação em que me encontro matou o meu tesão. Quando criança, quando frequentava a Escola Bíblica Dominical na Primeira Igreja Batista de Areias no Recife ouvia dizer que as pessoas assim como eu havia tomado uma injeção de desânimo do diabo. Começo a crer sofro de overdose demoníaca. A dose foi de lascar ao longo da vida. Só coleciono perdas, raríssimos são os ganhos. Quando penso que ganhei, na verdade, descubro que perdi. E continuo patinando na vida. Sinto-me cansado e cheio de dores pelo corpo.

4. Meus quarenta e sete anos de vida eu só plantei um pé de manga rosa, fiz três filhos sem contar com um que foi perdido, abortado por uma mulher louca que tive o azar de conhecer muito antes da minha atual esposa, construí uma casinha, mas de cachorro e uma companheira que me atura sabe-se lá até quando e moro num barraco caindo aos pedaços num terreno não legalizado pago com a boa herança que meu velho e falecido pai me deixou. Olha mais uma ironia: quando pensei que havia conquistado uma propriedade na vida, comprada com meu suor, uma evangélica, em nome de Jesus, me roubou. Lutei para preservar minha conquista preciosa, contratei uma advogada que além de não ganhar, ela também me roubou. Perdi para a crente, para o advogado dela e para a que paguei pensando que me daria bem e hoje eu moro numa invasão que também paguei. Na Universidade Federal de Rondônia me submeti a uma seleção de mestrado em ciências humanas, tive sucesso em todas as suas etapas e dois anos passei cursando para, de repente este curso parar. Como nunca fizeram que ele tivesse algum valor para a CAPES, o tempo que cursei jamais teve valor. A Universidade, tempo depois, deu um certificado de especialização para quem dele participou. Outra ironia: quando levei um amigo chamado Joaci Barbosa num carro velho que tinha de carona para pegar o certificado, ele recebeu, menos eu porque os professores, inclusive o meu antigo orientador nenhuma presença e nota minha registrou. O curioso é que anos depois este mesmo amigo teve a chance de outro mestrado [o de Geografia] fazer mas nunca me avisou. Preferiu, sabe-se lá o porquê, ficar calado que me ajudar com ele crescer. Hoje ele é professor da UNIR e eu no Estado não consigo e nem me deixam crescer.

5. Chego aos 47 anos de vida sem uma boa novidade para dizer. Não sei o porquê ainda não morri, talvez deus goste de me ver sofrer. Há quem dia que todo esse mal é por causa das heresias que costumo dizer. Mas, porra, por que há tanto outros hereges mais bem sucedido na vida que não para de crescer? Não é um paradoxo? Uma ironia? Se eu fosse calvinista pensaria que fui eleito para isso mesmo: para sofrer. Mas, apesar de nada ter para comemorar nesse 47ºano de vida, não posso deixar de reconhecer: há algumas poucas pessoas que parece de mim gostar. Mesmo sem esperança, como teimoso que sou insisto em lutar. Mesmo sem nenhuma certeza na vida, procuro curtir a miséria que dela posso conquistar e vou seguindo. Venho, inclusive no Mestrado da UNIR tentando de novo entrar.


6. Aos que conseguiram me ler até agora eu digo: não precisa comigo concordar. Nem sequer era preciso me ler, porque escrevi o que escrevi só para mim mesmo expiar. Não tenho nenhuma outra pretensão a não ser para mim mesmo imolar. Não me importo se você não gosta do que escrevo porque escrevo para te agradar. Apesar dos pesares, de vez em quando, tenho breves momentos em que posso da vida gozar. Mas, são tão breves que não consigo guardar para depois compartilhar. Deixo aqui registrado toda minha nostalgia que o ostracismo em que vivo me permite externar. Por isso, nesse meus 47 anos não sei o que tenho para comemorar. Quem sabe nos meus 48, se conseguir nele chegar?! Que a vida possa ser mais gentil comigo ou com os meus!
Moisés Peixoto

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