Sucata celebrada ou memória preservada?

http://youtu.be/PPW3ju1Y7nI 

Um grupo de ativistas realizou na tarde deste sábado (24), dia em que Porto Velho comemora 100 anos de instalação, o movimento "Viva Madeira-Mamoré", como protesto visando atrair a atenção dos entes públicos e sociedade civil para o abandono em que está o complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em Porto Velho. Neste evento foram feitas performances, exposição-fotográfica e um abraço simbólico ao patrimônio. Também foi lido um manifesto que será entregue aos entes públicos responsáveis pelo complexo, com assinaturas de pessoas que estavam no local. Manifesto que pede, entre outras coisas, a instalação de um posto policial no complexo; audiência pública para um plano de revitalização da estrada de ferro e a criação de uma fundação municipal específica para gerir a Madeira-Mamoré.
Ora diante dessa notícia acima, veio à mente um depoimento muito importante, cujo teor coloca algumas dúvidas nesse evento. É o depoimento do Senhor Dionísio Schockness sentado diante de uma peça do que foi a extinta ferrovia. Entre, outras afirmações, ele diz de forma clara que o que estava vendo não era a EFMM. O depoimento, ao menos, é um convite para nossa reflexão.
Quando as pessoas abraçam um dos galpões sobreviventes da extinta EFMM e dizem estarem celebrando-a e defendendo sua preservação, o que estão preservando de fato? De quem e para quem se quer preservar? Quem são as pessoas que fazem isso? Por quê? Nostalgia de um tempo que não viveram? Desespero? Apelo a um tempo morto? Celebração de uma sucata? Defesa irracional de um ferro velho? Compensações de uma profunda carência identitária?
Há quem defenda a limpeza geral e aterro da área. Outros dizem que é só uma questão de tempo para o Rio Madeira se encarregar de enterrar os restos mortais de uma ferrovia que não mais existe. Alguns são até radicais ao afirmarem que a atual defesa desses "ferros velhos" atende a interesses escusos de gente e de certos políticos locais que usam de tais "sucatas" e de tais "ingênuos" para lavarem dinheiro público. E quanto já não se gastou em seu nome? Quantos ficaram inclusive rico em nome do tal “patrimônio Histórico”?
Alguns dos ditos "historiadores" não acadêmicos, nascido aqui, se fizeram presente ao evento. Eles também abraçaram o defunto. Não obstante, há a crença que, entre eles o interesse de fato é outro. Em público são os super-guardiões protetores. Mas, na intimidade das reuniões para tomar chazinho da Academia de Letras de Rondônia e no Instituto Histórico e Geográfico do Estado, a conversa é outra. O desejo é bem outro. Um desejo safado de tornarem-se as únicas fontes disponíveis para os futuros historiadores. Os únicos detentores da memória do Estado, esquecendo-se de que são apenas detentores de certa memória bem particular que anseia muito em garantir que seja a única memória possível. Por isso os silêncios nada obsequiosos.
Em outos termos: uma memória bem vaidosa e bem pessoal de certos grupinhos que se encontra em extinção. Esses querem mesmo que o Rio Madeira e a Prefeitura façam o que não conseguiram fazer antes: que possam submergir e soterrar possíveis artefatos arqueológicos ainda restantes existentes ao longo das margens do Rio Madeira, pois, o que melhor existia em termos de documentação escrita foi queimada e “misteriosamente” apropriadas por integrantes desses grupos. Assim é que reza o folclore local acerca desse tema. Esta é a suspeita que perambula pela boca dos portadores de uma memória oposta a desses grupos que não aparecem em publicação alguma neste lugar.
A afirmação contida no depoimento do Sr. Donísio Schockness é provocadora de muita reflexão. Ele não enxergava a EFMM viva no tempo em que deu o depoimento. Sua fala é significativa, pois, bem pensada podem nos levar a entender o culto a ferrovia morta de alguns, a desfaçatez de alguns dos supostos preservadores aqui mencionados e o cinismo do poder público e políticos locais em querer de fato, não defender um patrimônio público, mas uma enorme máquina de fazer dinheiro para si mesmo. Uma prostituta velha, acabada que está prestes a morrer afogada. Escutem, portanto, o depoimento e tirem suas próprias conclusões.
Desprof.Peixoto
25/01/2015

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