Patrões e Capatazes

Meus ideais e meu sonhos não tem preço.

1- “Vivo” e trabalho em Rondônia desde julho de 1990. Vivo com o salário que tem sido pago ao professores. Com este, desde então, não me foi possível realizar meus sonhos ainda. Nunca fui outra coisa, senão um “professor”. Mesmo assim, apesar do que sempre me pagaram, a solidão me fez constituir uma família. Se não fosse por causa da solidão de morar neste fim de mundo, não casaria não. Minha mulher e meus filhos não merecem tamanha condição: viver com a dignidade menor que um cão. Se eu tivesse sido mais inteligente, se eu fosse mesmo inteligente, não teria casado não. Não há pagamento “em dia que dê jeito não!” Mas, enfim, casei, constitui família, tenho que insistir e viver, apesar de tudo e do outros. Não posso desistir só por causa disso. Tenho que prosseguir, que continuar sonhando e lutando se quiser sobre-viver. Tenho que resistir.

2- Nesse tempo todo, nunca me vendi, nunca abri mão dos meus valores e ideais por causa de uma gratificação. Sei que é um direito de qualquer pessoa. Até eu posso fazer isso se quiser. Não obstante, nunca quiz ser ou fui um Judas Iscariotes, um Calabar, um Silvério dos Reis, um Himmler, um Marcus Brutus, um Pinochet, um Dudu Pelizzari, um Jucélis Freitas [Ex-PC do B, SINTERO e atual Cassolista], um Edivaldo da vida e inúmeros outros que viraram a casaca, se bandearam para o outro lado para poder se dar bem na vida. Sempre fui o que venho sendo até agora: com acertos e muitos defeitos. Mudando, mas sem se vender. Talvez por isso tenha sido um lascado até então, uma besta, quiçá um otário e que não consegue sair da merda em que se meteu quando resolveu se tornar um professor, especialmente aqui um escravo deste lugarzinho.

3- Parafraseando Mino Carta da revista Carta Capital: o fenômeno que mais me aflige põe-se, no entanto, a propor por quês. Por que muitos profissionais da educação, especialmente, os professores, aderem tão compacta e fervorosamente ao pensamento do governante-patrão? Do governante do momento? Seria, em termos econômicos, a sua situação semelhante àquela da população brasileira em geral. Os funcionários públicos graúdos ganham mais que os colegas da iniciativa privada? E os que são a ralé, que nem eu, sobram apenas à esperança e o contentamento com as migalhas pagas em dia? E muitos que ainda são CLT, em tempos bicudos, temem perder esta boquinha? Mas há de ressaltar, em relação a outros professores, o ardor com que assumem os interesses do patrão governador do momento. Este é que é um mistério visceral que merece uma investigação profunda a se valer, como diz Mino Carta, das lições de Balzac e de Freud. Eu acrescentaria Etienne de La Boétie, do discurso da Servidão Voluntária para tentar compreender tal comportamento. Esses ficariam muito impressionados ao assistir as falas e os comportamentos patéticos desses “profissionais” da “educação” participando alegremente, euforicamente, com um fervor profundamente religioso das carreatas do governante que pôs no seu e no rabo dos seus colegas ao longo dos últimos oito anos e chamando-o de “companheiro”. Putz! Só em me lembrar me dar vontade de vomitar.

4- Às coisas como essas acima que me deixam também perplexo. Seria a vontade de poder uma explicação plausível? Ou simplesmente uma opção egoísta e individual desses sujeitos? Ao falar sobre isso, lembro da frase de um desses traíras locais, um pernambucano que criou uma certa raiz neste Estado, que assimilou o que pior existe nele. Este sujeito vivia dizendo para mim que se cansou de “bater lata” atrás do SINTERO [Sindicato local], depois que conheceu “Jesus Cristo”, digo, um senador que foi reeleito recentemente num passado não tão distante assim, sua vida mudou. Nunca mais “deu” aula. Como dizem por aqui: ponharam ele no gabinete da SEDUC e sua vida jamais foi à mesma. Vivem bem, adquiriu alguns imóveis e virou um exemplo de sucesso na vida para alguns de seus familiares. Um deles aprendeu tanto, que vive dizendo para os menos afortunados, em mesa de bar, praça e qualquer lugar onde esteja que é preciso ir à busca de uma “árvore que lhes dê sombra”. Este teve sucesso! Parou de dar aula também! Agora, ele é o cara que manda os outros fazerem isso e cuida para que não falhem. Tem as benções de uma fada-madrinha muito especial, serva do Deus altíssimo, discípula do Apóstolo dos apóstolos: o Valdomiro Santiago da igreja mundial. Pense num cara feliz? Pense num cabra convencido? Pensou? Pois é, é ele mesmo ....

5- Mas, prefiro não ter nada a ter de ser assim para me dar bem na vida. Eu não me vendo por uma portariazinha, um gabinetezinho, uma casa situada em bairro tido como nobre ou para poder pagar as parcelas de um carro novo recém adquirido. Não quero saber de nada disso. Tenho pena de quem se vende por trinta moedas para assediar moralmente colegas dentro das escolas, devolverem os que não concordam com sua opinião e postura. Os que dão falso testemunho [relatórios] para justificar seus arroubos e abusos de autoridade dentro do ambiente de trabalho. Os que dão sobrevida aos puxa sacos para se manterem no cargo. Os que perseguem e finge-se de ofendidos, tem chiliques e inventam outras pantomimas diabólicas para lascarem seus adversários. Enfim, se para me dar bem e ser alguém, eu tenho que ser o que essas pessoas são jamais serei alguém e terei algum galardão.

Comentários

Paula Oliveira disse…
Olá Peixoto, você fala da importancia de conservarmos nosso mais altos ideais quando diz"Nesse tempo todo, nunca me vendi, nunca abri mão dos meus valores e ideais por causa de uma gratificação".
Que o reconhecimento pelo nosso bom trabalho venha, sob a forma inclusive de uma melhor remuneração, mas que isso não signifique mutilar nossos sonhos de um mundo mais justo e ético.

abração

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