Não há ninguém no texto - NINGUÉM - além do escritor.

Osvaldo Luiz Ribeiro
7 h · Editado ·
O equívoco de quem insiste em transformar a exegese em "busca pela memória", em "pesquisa pelas relações orais" é que, no fundo, ainda se trata o texto como os velhos fundamentalistas...
Os fundamentalistas levam a sério a narrativa, a história contata: o dilúvio, as muralhas de Jericó, a mulher de sal e coisas do gênero. Eles ainda estão vidrados nos personagens. Eles só conseguem pensar nos personagens...
Será que eles não sabem que não há personagens de verdade? Será que eles não sabem que cada personagem tem uma e uma única alma? Será que eles não sabem que, se Jesus escreve na areia, é porque o escritor mandou? Que, se Jesus fala, é o escritor que fala, se Jesus cala, é o escritor que cala? Cada vez que um personagem da Bíblia fez um gesto, é a mão do escritor que controla esse gesto. Cada vez que um personagem levanta a mão, o pé, a cabeça, é o escritor quem o move...
Não há ninguém no texto - NINGUÉM - além do escritor. E mesmo o destinatário está ali conforme o lê o escritor.
De sorte que, para ler esses textos, deve-se necessariamente quebrar o encanto de entregar-se ao personagem enquanto ser, enquanto identidade, memória, seja lá o que for. O personagem é programa político, é instrumento político, é uma intervenção política.

Logo, não se deve olhar para o tempo da narrativa: deve-se olhar para o tempo em que o escritor está escrevendo, e compreender que papel cada personagem cumpre nesse momento, para esse momento e por causa desse momento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA, INTERCULTURALIDADE E MULTICULTURALISMO: UM INVENTÁRIO DAS IGUALDADES E DIFERENÇAS TEÓRICAS NA EDUCAÇÃO

Pêndulo