DIÁRIO DO EXÍLIO- 08: ALGUNS "FRUTOS" DA VIDA DE PROFESSOR

Assim rondônia deixa um professor.

1-Abro a janela da casa que sou na esperança de que a fumaça produzida pelo fogo que a consome por dentro devagarzinho possa ser pouco a pouco expelida para fora. Perdoe-me se minha escrita é indigesta, mas preciso escrever assim mesmo. Não é fácil ler e escrever melhor, enquanto queimo por dentro.


2-Sinto ódio: por ver gente safada se dando bem as minhas custas. Por colegas professores tão prejudicados como eu, conformados e pior, fazendo campanha a favor de um camarada, que estando no governo, se empenhou em nos roubar, humilhar e oprimir. Odeio os que o amam. Odeio está cercado por seus amantes. Odeio o fato dos meus colegas não terem feito muito mais e melhor para combatê-lo. Odeio o fato de o meu sindicato ser tão impotente e medíocre. Odeio o mal que antas travestidas de gente na direção das escolas sejam tão vendidas e não sofram igualmente o mal que fazem aos outros. Odeio ser impotente para mudar toda esta situação. Minha maior raiva é nem poder, no mínimo, me medicar, de me tratar porque o meu salário não pode pagar. O maldito governo que ai está “para me ajudar”, diminuiu meu salário por aulas que eu não mais consigo ministrar. Sinto ódio de mim mesmo por por sonhar e isso mudar.


3- Sinto um azedume em minh’alma:que me impede de rir de uma simples piada. Pareço-me um autista, fechado no meu mundinho particular. Minhas poucas risadas não tem sentido. Não vejo graça no mundo, sinto um medo que nunca tive antes em minha vida profissional quando tenho que me dirigir a alunos numa sala de aula. Fujo de alunos aglomerados e do barulho que fazem, como o diabo foge da cruz. Tenho medo de dirigir-lhes uma palavra-medo do que podem me fazer. Quando eles me aborrecem, não consigo poupar meus filhos do meu stress. Meu Deus: aquele Peixoto vivíssimo durante a adolescência se perdeu: não consigo resgatá-lo porra!


4- Sinto tédio:Como fugir da monotonia nas condições em que estamos? Serei eu o único a sentir isso tudo? Qual é graça em fingir que tudo é isso é natural e freqüentar algum culto religioso com a esposa ou praticar Cooper e fumando nas horas vagas? Qual é o sentido de freqüentar botecos e beber para esquecer? Ir para a sede social do sindicato por falta de melhor opção? Putz: que droga! Que canseira! Nem, ao menos, tenho o prazer de saber que fiz algo, realmente bom, para alguém com o trabalho que fiz até hoje dentro das escolas públicas que atuei. Pior, é que o fantasma da cara feia de certa diretora me assombra não me deixando dormir bem.


5- Não sei se consegui expelir toda a fumaça que sufoca o interior da casa que eu sou. Continuarei fazendo o possível para resistir. Não sei até quando. A onde estou por força da circunstância, pela minha péssima situação financeira vivo, de certo modo, sozinho. Nem minha esposa consegue me entender. Não tenho nenhum amigo por perto para jogar um frescobolzinho de idéias. Mas sei que não sou o único a sentir o que aqui expus. Sei de uma velha amiga velha, companheira de universidade e de ofício, chamada Rosa, a quem estimo muito. Sei que estamos unidos pela tarja - preta que tomamos. Ao menos, tenho a certeza que ela saberá entender o que aqui escrevi. De qualquer forma, a casa que eu sou continuará aberta, na esperança que o fogo que queima por dentro seja algum di apagado.












Comentários

virtus disse…
Ah! Meu bom Desprof. Peixoto. Não, não. Ah! Meu bom Moisés. Bem conheço essas angustias. Mais que interessante, mais que legal, nada de engraçado, profundo...

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